sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

À SEMELHANÇA DO GALO...

Era um belo galo vermelho. Dotado de melodiosa voz, cultivava uma exagerada auto-imagem. Notou que, sempre que ele cantava, surgia o sol. Depois de algum tempo convenceu-se que a noite terminava e o dia começava obedecendo ao seu comando. Era ele quem determinava o aparecimento do sol. Naturalmente, supunha, os outros animais tinham inveja de seu poder. E como não recebesse os elogios - no seu ponto de vista - merecidos, mudou-se para outra localidade. No dia seguinte, um pouco inseguro, voltou a cantar o e sol apareceu. Satisfeito, o galo ficou pensando na turma que ficara na aldeia anterior. Eles, agora, estão na escuridão completa e aprenderão a me valorizar.
Porque era verdadeiramente santo, um monge tinha uma atitude oposta. Um dia um anjo ofereceu a ele o dom das curas. Deixe que Deus cure, foi a resposta humilde do monge. Mas os milagres converterão muita gente, insistiu o anjo, e muitos pecadores se converterão. A tarefa de mudar os corações pertence a Deus, desculpou-se o santo homem. Insistente, o anjo prosseguiu: seus milagres levarão muitas pessoas a imitá-lo. Não, disse o santo, eles devem imitar apenas a Deus.
E o anjo retirou-se, sem se dar por vencido. A partir daí a sombra do santo começou a curar as pessoas. O monge nunca soube, apenas alegrou-se que as pessoas tivessem deixado de lado a sua pessoa e se contentassem com a sombra.
À semelhança do galo, há pessoas que se imaginam como centro do mundo. Tudo deve passar por elas, sua opinião é única e só elas sabem fazer bem as tarefas. Suas frases sempre iniciam pelo orgulhoso pronome pessoal “eu”. Pessoas assim precisam ser alimentadas, a cada dia, pelos elogios. Caso não seja elogiado, ele já sabe o motivo: a inveja. É a psicologia do galo, que - pretensamente - faz o sol nascer. Assemelham-se aos orgulhosos pavões, sempre exibindo suas plumagens.
Esse grupo não é maioria. À semelhança do humilde monge, muitas pessoas vivem na simplicidade, têm idéias claras sobre seu objetivo e suas realizações. O escritor Georges Bernanos falava das inocências anônimas que salvam o mundo.
Em alguma aldeia remota, hoje, algum galo imagina ter o poder de fazer surgir o sol no horizonte. Em outras aldeias, muitos humildes homens de Deus continuam a curar com sua sombra. E nem eles mesmos sabem disso.

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