terça-feira, 21 de outubro de 2014

PERDEMOS A NOÇÃO DA GRATUIDADE.

Era uma manhã em Nova York, semelhante a qualquer outra manhã. As estações do metrô recebiam e despejavam centenas de pessoas e todas elas tinham pressa. No meio da confusão, um jovem vestido simplesmente - calça jeans, camiseta e boné - encostou-se a uma parede e começou a tocar violino. Ninguém tinha tempo ou disposição para escutar a música.
Algumas crianças tentavam parar, mas eram arrastadas pelas mães. Transeuntes, de bom coração, deixavam cair algumas moedas. A maioria nem reparava no jovem e seu violino. Alguns com celular no ouvido, outros olhando as manchetes dos jornais ou consultando o relógio. Após tocar durante 43 minutos, o jovem recolheu e contou as moedas: 32,5 dólares.
No dia seguinte, pelo menos alguns dos passantes, ficaram sabendo, através do Washington Post, que o jovem se chamava Josuha Bell. Na semana anterior se apresentara no Simphony Hall de Boston, os ingressos custaram mil dólares e o teatro lotou. Na semana seguinte, Joshua Bell recebeu o prêmio de melhor músico erudito dos Estados Unidos. O violino, que usara no metrô era um Stradivarius, fabricado em 1713, e que foi avaliado em 3,5 milhões de dólares.
Os usuários do metrô não perceberam o valor da música porque os meios de comunicação não haviam noticiado, por não terem sido postos à venda ingressos, porque o violino não tinha etiqueta. Eles não sabiam da realização do evento. Assim, na maioria dos casos, é a vida. Corremos demais em busca do menos. Só damos valor aos objetos caros, aos artigos recomendados pela televisão, pelas coisas que podem ser comentadas ou que aparecem na primeira página do jornal.
Perdemos a noção da gratuidade. E as melhores coisas não são pagas, não têm preço. Quanto vale o nascer do sol? Ou a chuva, o pássaro saindo, pela primeira vez, do ninho e tentando voar? Quanto vale um bom-dia, a música do vento, o perfume do jasmim, o espetáculo da primavera, o pálido esplendor de uma estrela distante anos luz de nós?
Na verdade, a vida é um grande milagre, que só pode ser visto por olhos encantados. As coisas jamais se repetem, são únicas.

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