quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A MAIS CRUEL SENSAÇÃO HUMANA É A REJEIÇÃO.

Nem todo o teatro precisa ter um roteiro. Por vezes, o público é convidado a interagir e as afirmações acabam dando o rumo da peça. No após-guerra, na Alemanha traumatizada, uma peça fez muito sucesso. Um jovem soldado, ao regressar da guerra, encontrou sua cidade em ruínas e seus familiares mortos. Em meio ao desespero, ele ocupava o centro do palco e - desesperado - proclamava diante da plateia: Eu estou, irremediavelmente, só! A continuação da peça, a cada noite, dependia da reação do público. Numa noite, um dos espectadores levantou-se, foi até o palco, abraçou-o e garantiu-lhe: tu não estás sozinho. Estou contigo e sou um teu irmão.A solidão é um dos maiores problemas de hoje. Não se trata da solidão física. A solidão mais dolorosa é aquela que acontece no meio da multidão. A cidade moderna, nesta dimensão, é inferior às primitivas aldeias, onde era necessário caminhar grandes extensões para encontrar uma pessoa. O homem tornou-se um solitário por opção. Tudo começa com a cultura do individualismo exagerado. Os outros, na afirmação de Sartre, são o inferno. A pessoa cerca a si mesma de barreiras defensivas e condena-se à solidão. E porque, de alguma maneira, precisa preencher sua solidão, opta pela bebida, pela droga, pela internet. E nos casos extremados, paga um psicólogo ou psicanalista, para que o escute.
No portal da Bíblia, a sabedoria divina constata: “Não é bom que o homem esteja só”. Assim nasceu o amor, a família, a comunidade. Assim foi satisfeita a necessidade de partilhar. A criatura humana é demasiadamente grande para bastar-se a si mesma. O outro é um espelho que revela nossa grandeza. É o ombro amigo. É a possibilidade de partilhar nossas lágrimas e nosso sorriso, nossas decepções e sonhos.
A caminhada espiritual de São Francisco de Assis teve seu ponto culminante na descoberta de Deus como Pai. E, porque era lógico, imediatamente deu-se conta da existência de irmãos e irmãs. A partir daí fundou o estilo de vida religiosa que chamou de Fraternidade. Qualquer um que batesse à porta do convento era um irmão que Deus enviava. Para o santo, o irmão sempre estava em primeiro lugar. E nesta ótica apenas via as qualidades de cada um. O irmão é sempre maior que o seu pecado. E Deus não se repete. Cada um de nós é dotado de uma originalidade única. E, por isso, a diversidade é riqueza.
A fraternidade está na raiz de nossa opção religiosa: “Se alguém disser eu amo a Deus, mas odiar seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê”. A mais cruel sensação humana é a da rejeição; a maior graça é a de chamar o outro de irmão. Dante Alighieri, na Divina Comédia, afirmou que o inferno é a cidade da solidão e o céu a pátria do amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário