terça-feira, 17 de julho de 2018

QUAL É A SUA VERSÃO?

Resultado de imagem para ÉTICA

Tipificar, caracterizar e distinguir é uma mania dos filósofos e pensadores que primam pela clareza e evitam confusões. Confundir é colocar tudo no mesmo fundo, fundindo, misturando e embaralhando aquilo que, bem pensado, são coisas diferentes. Com a Ética acontece o mesmo fenômeno. Fala-se em falta de ética, de antiética, de imoral, como se a ética fosse uma coisa única, clara e transparente a todos. E não é. Nem é clara e transparente a todos e nem é uma única. Na verdade, não há isso que chamamos A ética, o que há são várias éticas.

Diga-se, de passagem, que há também uma importante distinção entre ética e moral. Moral é o conjunto das normas de certo e errado compartilhadas por uma determinada comunidade histórica. Moral é sempre histórica, situada, particular e em transformação em seus valores. A escravidão já foi moral, o machismo já foi moral, matar animais para se alimentar continua sendo moral. Moral são as normas de comportamento com caráter de bom e mau. A moral responde à pergunta: o que eu devo fazer para ser bom? As normas morais vigentes dizem o que fazer.

A ética é de outra ordem. A ética não responde o que devemos fazer, mas por que devemos fazer ou por que não devemos fazer. A ética dá as razões das normas morais, legitimando-as ou deslegitimando-as, mostrando sua consistência ou inconsistência. Na medida em que a ética, a ciência da moral, a reflexão sobre a moral, pretende dar as razões das normas, então, ela se vale de critérios que podem ser tomados como princípios norteadores das normas morais. E aí entra a pluralidade da ética. Não há uma única ética como critério universal, mas várias. E agrupadas em duas vertentes que tecnicamente nomeia-se: éticas teleológicas e éticas deontológicas. Ou se quiser, éticas consequencialistas e éticas principialistas.

Para as éticas consequencialistas importa o resultado e não a regra prévia à ação que diz o que tem que ser feito. Para as éticas deontológicas importa seguir a regra à risca, sem exceção e sem contextualização. A questão de fundo é pois de intenções e de resultados. A boa vontade de seguir a regra ou o melhor resultado, independente das consequências e dos resultados? Eis a questão.

Se a escolha recair sobre os resultados então teremos o consequencialismo em três versões. a) Se o que importa é o bom para o sujeito da ação, então temos o egoísmo ético. b) Se o que importa é a consequência boa para o outro, mesmo com o sacrifício do sujeito da ação, então temos o altruísmo ético. c) E, se o que importa é a consequência boa para o maior número de pessoas implicadas na ação, então temos o utilitarismo ético.

Na versão deontológica ou principialista, as mais famosas e importantes versões das éticas são a ética cristã e a ética kantiana. Ambas têm algo em comum, o que importa é seguir a regra e ela vale para todos. Não matar, não roubar, não violentar, não mentir. A ética religiosa cristã pressupõe a fé em Deus, razão da própria norma. Para a ética kantiana, basta a racionalidade da regra que se impõe como um dever e um imperativo categórico universalmente válido. A regra cristã diz: tu deves amar o próximo como a ti mesmo. A ética kantiana diz: o que vale para ti, que valha para o outro. Se não gostarias que o outro te trate como meio, trate o outro como fim em si mesmo também.

As cinco versões pretendem apresentar um critério que seja suficientemente forte e universal e que possa ser aplicado com validade universal. Qual a melhor das versões? E qual a tua versão? Ou será que não há a melhor e para evitar contradições haverá de sempre avaliar a versão e o contexto e seus resultados? Como somos finitos e falíveis, não há ética que seja A ética e, no cotidiano, para continuarmos merecermos usar a palavra ética, deveríamos, no mínimo, pensar, ajuizar e deliberar com coerência virtuosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário