sábado, 10 de fevereiro de 2018

PARA VOCÊ EU DARIA UM RIM.

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Há histórias de amor que excluem a clássica declaração “eu te amo”. Em Pisa aconteceu assim: ele tinha recebido o rim de um doador e ela era a enfermeira da ala hospitalar. O transplante não deu certo e ele voltou para a fila, esperando a sorte de conseguir outro doador. Mesmo mantendo o profissionalismo, algo, porém, aconteceu entre o paciente e a enfermeira. Algo que ficou no silêncio, selado pelos olhares mudos, que diziam tudo. Primeiro ela pensou: “espero que corra tudo bem para ele”. Depois, resolveu fazer os testes de compatibilidade e constatou na pasta do paciente que era uma doadora compatível. Resolveu declarar que estava disposta a dar-lhe um rim. O paciente não quis aceitar, mas ela insistiu. O transplante correu bem. Na semana passada eles se casaram.

Há histórias de amor que excluem a clássica declaração “eu te amo”. Na Itália há um provérbio que diz: “entre o dizer e o fazer existe um mar”. Ela fez, ele aceitou e foi amor, mesmo sem dizer.

Há histórias de amor que resistem à clássica declaração “eu te amo”. Porque a declaração é uma intenção. Bonita, mas intenção. O amor é feito de gestos concretos e não tem nada a ver com os desejos, tem a ver com o que fazemos em parceria, contra todas as previsões. Às vezes é difícil dizer “eu te amo”, porque há muito por fazer. Os acontecimentos atropelam as palavras.

Lembro de um poema de Adélia Prado, que acho uma das mais sublimes descrições do amor. O título é “A coisa mais fina do mundo”. Diz assim:

“Minha mãe achava estudo

a coisa mais fina do mundo.

Não é.

A coisa mais fina do mundo é o sentimento.

Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,

ela falou comigo:

‘Coitado, até essa hora no serviço pesado’.

Arrumou pão, deixou tacho no fogão com água quente.

Não me falou em amor.

Essa palavra de luxo.”

Eram tempos difíceis, são tempos difíceis. Mas o amor não passa. Por amor, a gente troca de país, de profissão, de vida. A gente dá um rim. Por amor, a gente é capaz de tudo. Mesmo quando não diz.

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