domingo, 4 de fevereiro de 2018

MILIONÁRIOS

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O colega de meu filho conta que seu pai é milionário: “ele tem uma empresa em Dubai, somos riquíssimos”.

Quase todos os dias encontro este pai milionário, que acompanha o filho menor à creche. Desce do metrô, caminha a pequenos passos, como os da criança, e não dispensa a bengala, herança de um passado que desconheço, mas que deixou sequelas visíveis e o impossibilitou para o trabalho manual. Na Itália ainda existem programas sociais, portanto, o pai recebe um benefício.

Aliás, não há vez que eu não encontre o pai milionário sem um dos seus filhos. A melhor riqueza, sabemos, é aquela que se traduz em cuidados, em presença, em carinho.

O colega do meu filho acha a nossa casa maravilhosa. É casa de quem trabalha, na medida de quem trabalha e sabe que a riqueza é um bem negado à maioria e, especialmente, é desigual. A riqueza material raramente premia pais considerados milionários por seus filhos, mas o amor os enriquece aos olhos de quem se sente no centro das suas vidas.

Outro dia o meu filho chamou a minha atenção para um prédio bastante modesto, até mesmo para o padrão popular do nosso bairro: “é aqui que mora o meu colega. Eles são milionários”. Concordei. Somos um mundo de milionários odiados por um por cento do planeta, uma minoria organizada que resolveu vingar-se e roubar tudo o que temos.

Mas quando o meu filho pergunta se nós também somos ricos, eu digo: sim e não. Sim, porque crianças como ele têm algumas possibilidades, começando pelo acesso ao alimento e à escola, que a maioria das crianças no mundo ainda não tem. Não, porque na escala da crueldade, somos apenas um pouco menos explorados do que os outros noventa e nove por centro que estão no nosso barco. Apesar disso, gosto de lembrar ao meu filho o que dizia o seu avô, meu pai, descendente de escravos e calejado na melancolia: “lembre sempre que podem amarrar seus pés e suas mãos, mas nunca poderão aprisionar o seu pensamento”. O avô de meu filho também era milionário.

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