sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

ESCREVEMOS PARA QUEM?


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Acho que nunca na história da humanidade tantos se dedicaram com tamanho empenho a escrever sobre todas as coisas como nos dias atuais.


Por onde passo vejo pessoas digitando sem parar como se fossem mudar o mundo com o que escrevem.


Me dá a impressão de que hoje se escreve mais do que se lê e isso não é bom, não deve fazer bem.


Haverá leitores para tudo o que escrevemos no zap-zap e nas redes sociais? Será que as pessoas não têm outras coisas mais prazerosas para fazer?


Tenho para mim que ler é uma forma de se alimentar com as experiências dos outros e aumentar nosso conhecimento.


É sempre bom ler antes de digitar, informar-se bem, pois nem sempre o que escrevemos tem algum interesse para os outros.


Só deveríamos escrever quando for absolutamente necessário, como falar ao telefone numa emergência ou tomar um copo d´água para saciar a sede.


Caso contrário, corremos o risco de ficar repetitivos, batendo sempre nas mesmas teclas gastas.


Em primeiro lugar, é preciso ter alguma coisa nova para dizer, algo que possa ser útil aos outros, para informar, fazer pensar, divertir, se for o caso, ou consolar nos momentos de aflição.


Tirante os que escrevem por dever de ofício, como os jornalistas, escrivães de polícia, cartorários, advogados, juízes e burocratas em geral, que tal se em vez de digitar freneticamente voltarmos a conversar com as pessoas, pessoalmente, sem intermediários eletrônicos?


Nesta febre de evasão da privacidade, em que todo mundo conta para todo mundo o que está fazendo, comendo, pensando, caminhamos para a incomunicabilidade nas relações pessoais em plena era da comunicação total online e full-time.


Se dermos uma boa peneirada, vamos ver que 90% de tudo o que é publicado neste preciso momento em que escrevo é absolutamente dispensável _ a começar, quem sabe, por este texto mesmo.


Por que e para quem a gente tanto escreve, afinal: a pergunta do título fiz a mim mesmo esta noite enquanto pensava sobre o que iria escrever amanhã neste espaço.


Conheço gente que escreve para ser admirado, por sua erudição ou ideias geniais, mas esse nunca foi, certamente, meu caso.


Não escrevo para agradar nem agredir ninguém. Sou um contador de histórias da vida real feito aquela senhorinha que passa o dia na janela e depois conta ao marido o que viu _ do seu ponto de vista, é claro.


O marido, no caso, são os leitores que me acompanham faz mais de meio século e, como não sei fazer outra coisa na vida, continuo escrevendo todos os dias.


Em certos dias, tem assunto demais; noutros, é preciso tirar leite de pedra. Assim é a vida.


Se pudesse, só escreveria sobre coisas boas, inspiradoras, agradáveis de ler e, se possível, engraçadas, mas a vida real não é assim, teima em nos jogar na cara a toda hora fatos abomináveis, personagens execráveis, becos existenciais sem saída.


Às vezes tem gente que me pergunta quando vou lançar um novo livro e eu me pergunto: por que devo escrever outro livro, o que me falta dizer?


Já contei aqui a sacanagem de um amigo meu, também escrevinhador prolífico, que certa vez comentou numa rodinha de jornalistas que eu era o único cara que já tinha escrito mais livros do que lido. Ou seja, que sou um autor inculto.


Pois lhe digo agora, caro amigo, que ultimamente estou tirando o atraso, lendo um livro após outro e, por vezes, dois ou mais ao mesmo tempo _ e tenho gostado muito dessa experiência.


Se as pessoas lessem mais e escrevessem menos, acho que o mundo seria bem mais saudável. Então vou parando por aqui para dar a minha contribuição.


Hoje ganhei um livro novo, Variações sobre o prazer, do grande educador Rubem Alves. Dizem que é muito bom. Como saber? Só lendo…

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