quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

RECOMEÇAR SEMPRE...


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A cada amanhecer a sinfonia se repete, eles ocupam todos os galhos das árvores próximas da residência. É simplesmente maravilhoso acordar com o cantar dos pássaros.

É um verdadeiro bando afinadíssimo e sem maestro. A pontualidade para o início do espetáculo é precisa, bem como a hora de encerrar, levantar voo e aguardar a manhã seguinte. Num dia desses, ouvindo a passarada, lembrei do canário  que habitou o meu lar por anos.

O lugar dos pássaros é o mundo, mas esse havia nascido na gaiola e precisava ser alimentado de forma especial. Suas revoadas eram curtas, gostava de ficar por perto, tinha prazer em cantar continuamente.

A cor amarelada combinava com o ambiente onde permanecia a maior parte do dia. O olhar de admiração dos transeuntes parecia enchê-los de satisfação. Tinha a hora do banho, da refeição com ovo cozido, folha grande almeirão. Seu canto é inesquecível.

Todos os anos, como ritual da própria espécie, o canário se desfazia gradativamente de algumas penas e aguardava a chegada da nova roupagem. Parecia uma verdadeira revolução do seu humilde roupeiro. Nesse período, o canto cessava, o ambiente ficava mais saudosista e, porque não, nostálgico.

Por ter somado muitos anos, o canário tinha dificuldade de voltar a cantar, cada vez que trocava a vestimenta. A impressão era que a queda das penas o fazia esquecer as partituras. Ainda bem que um amado vizinho, criador de pássaros, acolhia o nosso canário e colocava bem próximo de outros que cantavam ininterruptamente.

Dessa forma, o ‘canário’ reaprendia a majestosa arte sinfônica. Literalmente ele tinha que começar do zero e aprender novamente a cantar. Quando estava em sua plena capacidade de seguir caminho solo, retornava ao modesto lar, na convivência diária com nós.

Esquecer algumas coisas faz parte da vida, do passar dos anos, dos movimentos psíquicos. Desfazer-se das ‘penas’, de tempos em tempos, é uma necessidade, condição para a renovação. Se por um acaso a melodia da vida for esquecida, sem problema, pois é possível reaprendê-la. O importante é não deixar de buscar saídas, encontrar alternativas, redesenhar cenários.

Viver é aprender e reaprender cotidianamente, é recomeçar mesmo que os motivos não estejam bem definidos, é não deixar de dar um passo depois do outro para abrir novos e inusitados caminhos. Um dia o ‘canário’ deixou definitivamente de cantar. Ficou um vazio. Aos poucos, todos compreenderam que ele havia cumprido muito bem a sua missão. A vida teve que seguir adiante. Continuemos cantando, trocando as penas, reaprendendo melodias. Viver é mais ou menos assim: alguns ciclos terminam, outros começam.

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