segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A GLOBALIZAÇÃO DA INDIFERENÇA

Ao encerrar o III Encontro dos Movimentos Populares, no Vaticano, em novembro último, o papa Francisco denunciou “a globalização da indiferença” frente à pobreza mundial e ao drama dos refugiados que, pelas águas do Mediterrâneo, tentam alcançar a Europa. Até meados de novembro morreram afogados, na travessia do Mediterrâneo, 4.600 refugiados, um recorde mundial segundo a Organização Internacional para Imigrações.

Essa indiferença se retrata na avareza das nações ricas. A ONU procura amenizar o sofrimento humano através de ajuda às vítimas de conflitos e desastres naturais. Para isso, ela literalmente passa o chapéu entre as quase 200 nações que lhe são filiadas.

Não espera que todas colaborem, pois sabe que a maioria deve lidar com as vítimas em seus próprios territórios. Espera, contudo, que os países ricos do G-7 e do G-20 sejam solidários.

O G-7, integrado por EUA, Alemanha, Reino Unido, Japão, Canadá, França e Itália, concentra 64% da riqueza líquida global, o equivalente a US$ 263 trilhões. Para se ter uma ideia comparativa, o PIB do Brasil é de pouco mais de US$ 2 trilhões.

Este ano, como em 2015, a contribuição ficou abaixo da metade da quantia esperada. A denúncia é de John Ging, chefe do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.

Para ele, isso demonstra a insensibilidade dos governos para com aqueles que são vítimas da violência (guerras, terrorismo etc.) e do desequilibrio ambiental (tsunamis, terremotos, enchentes, incêndios, secas prolongadas etc.).

A ONU solicitou, este ano, US$ 20 bilhões para socorrer 87 milhões de seres humanos ameaçados por guerras e conflitos, sobretudo na Síria, no Iêmen, no Sudão, no Sudão do Sul, na República Centroafricana, no Afeganistão e na Palestina. É preciso asegurar a essa gente alimentos, medicamentos, água, abrigos, educação e proteção ao frio.

Frente à devastação provocada no Haiti pelo furacão Matthew, em outubro passado, a ONU solicitou US$ 120 milhões para socorrer 750 mil pessoas. Uma quantia irrisória para as nações dos G-7 e G-20. Conseguiu apenas 40%, ou seja, US$ 48 milhões.

Enquanto o orçamento militar dos EUA, em 2017, está calculado em US$ 583 bilhões (40% do orçamento federal), 560 mil crianças estão ameaçadas de morte pela fome que assola a região saariana conhecida como Sahel. Em 2015, segundo a ONU, o mundo gastou em armas US$ 1,7 trilhão de dólares, o suficiente para erradicar a fome no mundo.

Recursos, materiais (dinheiro, tecnología etc.) e naturais (terras, áreas ociosas etc.), há de sobra no mundo. Deus criou a terra e, o diabo, as cercas. O que falta é justiça. E frente à “globalização da indiferença”, só resta aos militantes da utopia fazer a diferença na busca incessante de outros mundos possíveis.

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