sábado, 10 de dezembro de 2016

"VAI CATAR COQUINHO

Na beira da estrada que da entrada a propriede, estão dois pés de coqueiros. Sempre gostei de coqueiros. Eles até têm um nome científico e as variedades são muitas. Lembro bem: um amigo queria plantar dois coqueiros e meu irmão conseguiu as plantas já adultas. A adaptação foi imediata. Os anos passaram e lá estão os coqueiros. Não faz muito tempo, o cacho estava florido, as abelhas faziam visitas frequentes em busca do néctar. Nestes dias, num daqueles momentos de olhar e pensar longe, percebi que os coquinhos estão todos maduros. O amarelo das frutinhas, então, me transportou à infância.

Um sabor inesquecível: as tardes de domingo eram simples, as brincadeiras tinham as marcas da inocência, o mundo possuía o formato do alcance dos olhos. A intensidade, porém, não dependia de nenhum incremento. Comer coquinhos era um programa muito especial. Os domingos eram aguardados com certa ansiedade. A simplicidade proporcionava profundas alegrias. Tudo era motivo para gargalhada. Os brinquedos eram naturais ou fabricados manualmente. Os córregos, com espécies comuns de peixes, reuniam os decididos pescadores mirins. O lanche era feito de frutas silvestres. Quando havia pipoca doce ou rapadura, a festa alcançava a sofisticação.

O cacho repleto de coquinhos amarelados provocou um feliz intervalo. Foram instantes rápidos, num tempo de tanta velocidade. Recordar é viver. As lembranças conseguem aliviar as preocupações e as crescentes exigências diárias. É maravilhoso ter um ontem capaz de roubar alguns minutos do hoje. O passado é mágico: não ocupa espaço e, ao mesmo tempo, elimina distâncias. Impossível viver bem o hoje sem os parâmetros do ontem. Tudo é aprendizado, conteúdo necessário para novos sonhos. Apenas um pequeno lamento: a grande maioria perdeu a simplicidade das brincadeiras, a transparência dos relacionamentos, o encantamento pela natureza.

Evidente que havia desencontros. Era comum ouvir a expressão: ‘vai catar coquinho.’ Emoções passageiras, trocadilhos sem rancor. O respeito nunca ficava no esquecimento. Os tempos são outros. Tomara que o ritmo acelerado dos dias não roube a oportunidade de olhar, mesmo que seja de forma rápida, os ‘coquinhos’ que amadurecem. Por uns instantes, sempre é possível voltar no tempo e reavivar aqueles momentos que continuam confirmando que quanto mais simples for a vida, maior será a felicidade. Nos próximos dias, no real sentido, irei catar alguns coquinhos maduros, que estão prestes a se soltar do cacho.

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