quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A NOITE ESCURA DA ALMA.

No vai e vem dos dias, imerso num mar de compromissos, sempre restam uns instantes para pensar longe, fugir da pressão da agenda e aliviar um pouco a alma. O final de ano se aproxima e a sobrecarga não conhece tréguas. Administrar o cansaço é imprescindível, verbalizar a esperança é uma questão de espiritualidade. Ser justo no balancete existencial é bom senso. Continuar vivendo a alegria, apesar dos desacertos e desencontros, é um medicamento eficaz. Mesmo que o calendário aponte para o fim, não há uma inclinação para o término. Nada finda. Tudo recomeça. É assim diariamente. Toda conclusão aguarda por uma continuação. Talvez não seja possível uma renovação total, mas dar sequência é um jeito criativo de viver.

Sempre gostei de janelas. Mesmo que o tempo seja escasso, é bom ficar uns instantes debruçado, olhando tudo sem enxergar nada. As janelas possibilitam ângulos extraordinários. Há detalhes que só são vistos a partir dessas aberturas, que rasgam tijolos e concreto para garantir luminosidade. Mesmo com todo o aparato de grades e proteção, a janela sempre recorda que o infinito não cabe dentro das paredes. Há um mundo que extrapola limites e que inspira liberdade, convida à ousadia, provoca reinvenção diante da insistente monotonia.

Mas há outras janelas que precisam ficar escancaradas. A janela da alma não pode ficar apenas entreaberta por causa do desânimo e do cansaço. O corpo se ressente quando as exigências afrontam a resistência. Não é diferente com a vida espiritual. A Madre Teresa de Calcutá, muito provada por querer transformar a gritante realidade do povo sofrido, usava uma expressão, inspirada em São João da Cruz, que faz pensar: ‘a noite escura da alma.’ Certamente ela experimentou a escuridão da incompreensão, da sua pequenez diante de um universo de necessidades.

Todos têm momentos de escuridão da alma. Alguns desistem dos sonhos, outros se refazem pela fé e seguem adiante. Experimentar a ausência da luz, da esperança, do amor é mais do que humano. Nestes momentos, faz um bem enorme voltar à janela e olhar o firmamento, liberar os sentimentos, pensar o impensável, aliviar aquela autoimposição de que tudo deve ser como foi planejado. A noite escura da alma, quando bem administrada, poderá render o incrível amanhecer daquele amor sem fim, que recupera as energias e provoca infinitas alegrias. Sim, onde houver trevas, que eu leve a luz.

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