quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

PODEMOS SER INTERROMPIDOS A QUALQUER MOMENTO.

Envolta em papel de presentes, chegou a nova agenda. Bonita, funcional, cheia de esperanças e sonhos, como a juventude costuma ter. ao seu lado, marcada pelo tempo e pelas lutas diárias, a velha agenda, cansada e um pouco triste por ser deixada de lado. Embora ela saiba que é amada por mim. Entre as duas, o mistério do tempo.

A velha agenda nada mais é que a minha vida. Em suas páginas estão assinalados os meus fracassos, os meus pecados, as minhas omissões, as esperanças que murcharam, as sementes que não germinaram, as boas intenções que, por não terem sido realizadas, se tornaram más intenções.

Mas ela guarda também páginas luminosas, momentos divinos. Lá estão os meus êxitos, minhas alegrias, os sonhos realizados, os perigos que ficaram para trás. Lá estão assinalados encontros com o Pai e encontros com os irmãos. Algumas palavras lembram momentos difíceis com final feliz: as vezes que tudo me levava a dizer “não” e eu disse “sim”; e as vezes que eu disse “sim”, quando tudo conspirava em favor do “não”.

A nova agenda está totalmente em branco. Compete a mim, em meio às complicações da vida, escrever alguma coisa. O passado é irreversível, é imutável. Não existe a possibilidade de rasgar algumas das folhas da agenda e da vida ou apagar o que foi escrito. Já Pilatos dizia ao povo judeu: “O que escrevi, escrevi”. Por outro lado, o passado é um mestre que merece ser consultado, embora as respostas mudem com o passar do tempo.

Em cada Ano Novo renovamos nosso estoque de projetos e decisões. Se muita coisa não deu certo no ano que passou, é justo apostar todas as fichas no ano que surge. Sou responsável pela nova agenda, mesmo sabendo que ela receberá contribuições dos outros.

A agenda de 2017 está também aberta aos imprevistos. Não vamos enfrentar este ano sozinhos. Deus vai continuar a amar-nos e sua graça nos ajudará a superar os momentos confusos e difíceis.

Santo Agostinho lembrava que Deus promete a todos e sempre o seu perdão, mas não garante a ninguém o dia de amanhã. O escritor mineiro Fernando Sabino (1923-2004) falava de três certezas que nos acompanham: recém estamos começando, temos muita coisa a fazer e podemos ser interrompidos a qualquer momento.

Cada dia é presente de Deus, é um sinal de seu amor. Com isso Ele quer nosso amadurecimento humano e divino. Os gregos falavam do “kairós”, isto é, o tempo de Deus, a passagem de Deus em nossa vida. E o tempo de Deus é hoje. Que a nova agenda nos diga isso todos os dias.

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