domingo, 18 de dezembro de 2016

CREMAÇÃO. O QUE VOCÊ PENSA A RESPEITO.

Não é estranha a afirmação de que hoje “tudo mudou”! Isso é notório e confirmado em todos os campos da atividade humana. Em questões religiosas e morais, quem vivenciou experiências de cristandade num passado recente também sente e vive, hoje, novas visões e tendências contraditórias. Também na relação com a morte e com os mortos acentuam-se novos comportamentos, mesmo que nem todos sejam os mais condizentes.

A realidade da morte e seus ritos ainda move sentimentos e motiva rituais, mas até nos funerais muitas tradições foram mudando. As empresas funerárias oferecem planos; facilitam espaços e modalidades de transportes; garantem seguranças legais e assessorias que amenizam os familiares. Mas tudo isso tem seu preço.

O velório que era mais doméstico e acompanhado, dia e noite, por amigos e vizinhos, vai reduzindo sempre mais o seu tempo, inclusive dispensando a presença durante a noite por motivos de segurança. Evidentemente, as mudanças nas práticas dos funerais variam muito entre os grandes centros urbanos e o mundo rural e entre as diversas culturas. Mas, em geral, dentro das mudanças que vão ocorrendo, sempre é preservada a sacralidade da morte e confirmada em suas reações familiares e sociais.

Uma das questões que sempre preocupou a humanidade e a Igreja é a cremação, cada vez mais comum, mesmo entre os católicos praticantes. Devido à questão polêmica da ressurreição dos corpos no fim do mundo, no Renascimento, a cremação era uma escolha mal interpretada e motivo de conflito. Desde 1963, com o Papa Paulo VI, a Igreja liberou a seus fiéis a escolha pela cremação.

É bom clarear que, na tradição católica, a cremação nem sempre era proibida. Era comum e inevitável nas epidemias e em casos de calamidades naturais e de guerra.

É evidente que a Igreja não via contradições entre cremação e a doutrina da ressurreição dos corpos no fim do mundo. A teologia sempre confirmou que o corpo que ressurgirá será qualitativamente diferente do corpo mortal. Deus não precisa de nossos restos mortais para o milagre da ressurreição. Se assim não fosse, como seria a ressurreição final de quem morreu em incêndio ou explosões?

Referindo-se à questão da cremação, a Igreja Católica lançou no dia 25 de outubro de 2016 uma instrução com o título “Ressurgir com Cristo”. Aqui, a Igreja não se opõe à cremação, porém recomenda que os restos mortais sejam depositados em cemitérios ou outro lugar sagrado. Questiona-se o fato de guardar em casa ou espalhar as cinzas no mar ou outros espaços da natureza.

Penso que, em relação à conservação digna, tanto do corpo, quanto das cinzas, a decisão deverá considerar também a questão simbólica, o bom senso do memorial e a realidade antropológica. “Espera-se que esta nova instrução possa fazer com que os fiéis cristãos tenham mais consciência de sua dignidade de filhos de Deus” (cardeal Gehrard Müller)

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