sábado, 3 de dezembro de 2016

ENCERRA O ANO E NÃO A MISERICÓRDIA.

É inegável que, em nossos dias, estamos vivendo um tempo de intensa dispersão. O mundo da comunicação não só dispõe de meios eficientes e favoráveis, como também de altos riscos de incontida curiosidade dispersiva. A busca insaciável de novidades e alternativas de respostas momentâneas facilmente seduz as pessoas ao esquecimento do fundamental que harmoniza a vida e a convivência humana.

Quando o Papa Francisco acordou a humanidade para o Ano Santo da Misericórdia, queria nos lembrar, que essa é eterna. Nela está o recurso de renovação a partir de Deus para as raízes de nosso ser e de nossas relações. É o fundamental que ajusta o provisório e sustenta o novo em bases sólidas e verdadeiras.

A misericórdia, oferecida pela gratuidade do amor, não está sendo apresentada, em nossos dias, como um tema a ser estudado, mas como uma medicina a ser acionada e oferecida à humanidade que se encontra doente. A misericórdia não é um atributo de Deus, mas é o nome do próprio Deus que mostra seu rosto em Jesus Cristo, através de seu ser, do seu agir e de suas palavras. A misericórdia é a condição fundamental do Evangelho e a chave de compreensão da vida cristã.

Em nossas Igrejas, divinas, mas também tão humanas, mobilizam-se campanhas para responder a necessidades urgentes e emergentes; situam-se problemas generalizados; promovem-se anos temáticos e momentos fortes de solidariedade. Tudo isso é importante e necessário, mas também acontece, com facilidade, que ao passar a campanha ou o período temático, deixa-se na sombra o que antes veio à luz. Não podemos nos permitir que, passado o ano santo, a misericórdia passe para a sombra do esquecimento.

Aqui se trata da pergunta sobre o Deus misericordioso, o Deus “rico em misericórdia”, que nos consola a fim de que nós, pela nossa parte, nos consolemos uns aos outros". N’Ele, o único capaz de construir um novo começo, encontramos a coragem cotidiana e sempre atual para esperar contra toda a esperança e a força para começar sempre de novo.

A misericórdia divina é sempre capaz de pôr um limite ao mal que sempre ameaça a vida querida por Deus no mundo. Numa época em que muitos contemporâneos nossos se sentem desalentados, sem esperança e feridos por toda sorte de agressões, a mensagem da misericórdia deve ressoar sempre mais forte como mensagem de confiança, de esperança e de cura.

Encerra o Ano Santo, como um acordar para um novo tempo, mas não podemos deixar cair no esquecimento a misericórdia, como dom divino e como tarefa de todos os cristãos. Por palavras e obras somos chamados a testemunhá-la. Assim, por meio de um raio da misericórdia, o nosso mundo, frequentemente escuro e frio, pode tornar-se mais quente, mais luminoso, mais digno de ser habitado e amado.


L.TURRA

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