segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

OUÇA A CRIAÇÃO.

Um casal de joão-de-barro construiu sua morada na janela de uma casa de família. Sem licença dos donos e sem serem percebidos, os novos moradores se estabeleceram e começaram a conviver. Em posse de seu ninho, durante uma refeição dos proprietários da casa, inauguraram o seu canto festivo. Ao cantarem, foram descobertos em sua invasão. De imediato, a dona de casa, muito zelosa pela estética, deu ordem à empregada para demolir a casa de barro. Mas no momento em que a mãe deu a sentença um filho gritou: “Mãe, para com isso! Ouça a criação! Deixa o joão-de-barro cantar!” A palavra da criança foi levada a sério e, a partir daí, os novos moradores foram aceitos e diariamente ofereciam, em recompensa, o seu canto inconfundível. Um novo afeto e uma nova sensibilidade contagiaram a família.
Ouça a criação! Parece ser uma urgência tanto maior quanto mais somos invadidos e agredidos pela poluição sonora que se impõe ao nosso redor. A pior perda de sensibilidade auditiva não vem pela deficiência dos ouvidos, mas pela frieza e dureza do coração.
Ouça a criação! É mais do que escutar o canto do joão-de-barro, a melodia dos ventos que sopram na floresta, a harmonia dos grilos no entardecer ou o berro dos rebanhos de nossos campos. Tudo isso também pode ser importante, especialmente para as novas gerações. Porém, para aprendermos ouvir a criação em sua verdadeira linguagem, necessitamos confirmar e acolher, cada dia, a voz da palavra criadora de Deus que ressoa em cada obra que saiu de suas mãos. Tudo fala de Deus!
Ouça a criação! É um chamado que vem do coração da vida, para que a vida não se torne tão vazia e agredida. Há uma palavra que antecede e segue o que nossos ouvidos ouvem e nossos olhos veem. O “Faça-se” pronunciado pelo Criador não emudeceu com o tempo. Em tudo o que nos cerca há uma mensagem de amor sempre vivo e atual. Até mesmo os fatos ruins podem ser entendidos como um grito de alerta para escutarmos a palavra original daquele que fez bem todas as coisas e continua seu projeto.
Há alguns anos, ao visitar os confrades da região de Rondônia e Mato Grosso, ao longo dos caminhos, Carlos, viu a dramática derrubada das matas. Tratores e grandes correntes demoliam em minutos o que a natureza tinha gerado em séculos. Ao ver a queda impiedosa, ouvia-se também o grito de morte da floresta nativa. E o pior é que isso não terminou. “A criação continua gemendo em dores de parto”. Mas, que parto? Eis a questão! Se é para nascer algo melhor e escutar os hinos harmoniosos de uma nova criação, o parto será honroso. Se for para nascerem desertos e monstros, que o Criador nos inquiete em tempo para continuarmos sonhando com um “novo céu e uma nova terra”.
Ouça a criação! Essa escuta exige um permanente treinamento de fé, através do silêncio interior. Se aprendermos escutar e acolher a ação do Espírito de Deus que, no início da criação pairava sobre as águas, para que pudessem gerar a vida, ainda poderemos saudar o alvorecer do primeiro dia da criação.

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