sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O CÉU SE CONSTROI AQUI!

Tales de Mileto foi um dos chamados Sete Sábios da Grécia. Numa oportunidade, refletia o significado dos astros para a existência. Absorto, em contemplar o céu estrelado, caiu num buraco e quebrou uma perna. Uma mulher do povo, que tudo assistiu, comentou: esse aí preocupa-se tanto com o que se passa no céu e não sabe o que existe debaixo dos seus pés.
A primeira frase da Bíblia proclama: “no início Deus criou o céu e a terra”. Seria perigoso separar o que Deus uniu. Ele criou o céu e a terra. Na prática, essas duas realidades aparecem separadas. Há os que dão importância absoluta ao céu e esquecem a terra. Outros, ao contrário, tudo apostam na terra, ignorando completamente o céu.
A corrente materialista garante que tudo acontece na terra, o céu é uma utopia, ou seja, lugar nenhum. Karl Marx fala que o céu é uma alienação com objetivos bem definidos: iludir os pobres da terra, o que interessa aos poderosos. O céu da igualdade, sustenta o pensador alemão, deve acontecer aqui com pão, terra e liberdade para todos. Para ele, a religião se constituía no ópio do povo.
A corrente espiritualista só aposta no depois, ignorando totalmente a terra. Vale a pena sofrer agora, aguardando a felicidade definitiva do céu. Nesta perspectiva, a terra é apenas uma estrada, em péssimas condições, mas que nos leva à pátria desejada. O devoto ergue, com fervor, os braços para o alto, mas esquece de estendê-los aos irmãos. Nessa teologia seria suficiente celebrar festivamente, ter uma vida mortificada e de acordo com as leis da Deus e da Igreja. Vale de lágrimas, o mundo não teria jeito.
A terra sem céu se transforma num deserto sem vida e sem horizontes. De alguma maneira, justificaria o absurdo e a vida sem sentido. Mas o céu sem a terra se transforma em religião alienada e triste. De nada adiantaria lutar contra o fatalismo, marcado pela supremacia do mal no mundo. A consciência e a vida individual seriam o santuário de Deus.
Uma religião viva e dinâmica só pode assumir a ligação do céu e da terra, do hoje terreno e do amanhã divino. Tudo o que acontece na terra tem ligação com o céu. E o céu será o resultado daquilo que se viveu na terra. É unir fé e vida. É unir aquilo que celebramos no domingo e aquilo que realizamos durante a semana. É unir festa ao cotidiano. É olhar para o céu, mas cuidar onde caminhamos.
Existe a tendência de separar o sagrado do profano. O templo e as coisas de Deus seriam sagradas, enquanto as demais realidades seriam profanas. Na realidade, podemos profanar as melhores coisas, mas podemos - e devemos – tornar sagradas todas as coisas. O céu se constrói aqui. É uma casa que construímos aqui na terra, mas que habitaremos depois. Devemos, ao longo da vida, olhar as realidades do céu, mas cuidando onde pisam nossos pés.

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