terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A LIÇÃO DO PEQUENO JAPONES.

A data de 11 de março não será esquecida no Japão e no mundo. Um tsunami – terremoto submarino – levou desolação e morte à costa japonesa. As ondas alcançaram até 23 metros. De altura. A televisão mostrou cenas somente vistas na fantasia dos filmes em super-produções. Automóveis e caminhões pareciam de plástico, redemoinhando nas águas, navios jogados em cima de prédios, aldeias inteiras desaparecendo. As estatísticas falam de 14 mil mortos e outros tantos desaparecidos.
Ha Minh Thanh é um policial vietnamita, voluntário no Japão. É dele o relato em carta à família, publicada na imprensa. Está acampado a 25 quilômetros da usina nuclear de Fakushima, trabalhando 20 horas por dia. As poucas horas que dorme são povoadas pela visão de cadáveres. Há dias foi escalado para ajudar na distribuição de comida, enviada por uma organização humanitária. As crianças da escola infantil eram muitas e, provavelmente, não haveria comida para todas.
O último da fila era um garotinho de nove anos, pés descalços e vestindo apenas minúsculo calção. A comida poderia acabar antes de sua vez. O policial ficou sabendo que o menino estava numa escola, no terceiro andar. O pai trabalhava perto e tratou de socorrer o filho. Ele viu quando o carro e o pai desapareceram levados pelas ondas. Sua mãe e a irmãzinha, revelou, moravam à beira da praia e foram levadas pelas ondas enlouquecidas. O voluntário tirou sua jaqueta de policial e vestiu-a no menino. Depois pegou sua bolsa de comida, deu a ele explicando: eu já comi hoje, fica para você!
A criança agradeceu com uma graciosa inclinação. Depois pegou a bolsa e foi colocá-la junto aos outros alimentos que seriam distribuídos. O policial ficou surpreendido, pois imaginava que o pequeno, faminto, começaria logo a comer. E mais surpreendido ainda ficou com a explicação da criança: é possível que haja gente com mais fome do que eu, coloquei-a junto aos outros alimentos, assim a distribuição será mais justa.
Um povo que consegue dar a uma criança de nove anos esta educação, jamais será derrotado. Saberá superar a guerra, a bomba atômica, o tsunami ou qualquer outra tragédia. É um povo que apostou na educação.
Hoje a educação no Brasil atravessa verdadeiro tsunami. Há estabelecimentos que acham que sua função é apenas ensinar. Os professores – em sua grande maioria – são mal remunerados. E a pior de todas as crises: não mais conseguem fazer valer sua autoridade em classe, diante da prepotência de alunos, que contam com o irracional apoio de pais.
Dom Pedro II dizia: se eu não fosse imperador, queria ser professor e a poetisa Gabriel Mistral - Prêmio Nobel de Literatura - pretendia fazer de um dos seus alunos seu verso mais perfeito. Todos temos a obrigação de aprender a lição do pequeno japonês.

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