quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

SÓ NO MEIO DA MULTIDÃO.

Sentado na calçada de uma grande cidade, queixava-se um mendigo de estar completamente só. Alguém, para consolá-lo, observou: você não está só: veja quantas pessoas passam por você! Sim, é certo, explicou o mendigo. Muitas pessoas me cercam, passam por mim, mas elas não me veem.
Vivemos hoje o tempo do individualismo. Nossas cidades tornaram-se gigantescos formigueiros humanos. Cada qual com seu objetivo bem definido e sem se importar com os outros. É muito comum não saber o nome da pessoa que mora no andar superior ou na casa ao lado. Ou virar o rosto ao irmão caído na calçada. Todos parecem assumir a filosofia de Sartre: “os outros são o inferno”.
Origina-se assim uma solidão infinita. E o homem de hoje quebra a solidão com amigos virtuais, amigos on line. Do outro lado está alguém que eu não conheço, nem mesmo sei se o perfil com que se apresenta é real. Com ele gasto meu tempo, troco confidências, peço conselhos, sonho e namoro. No passado existia a solidão da campanha, hoje existe a solidão das ruas apinhadas.
Já no portal da Bíblia, Deus interroga Caim: onde está teu irmão? Com uma resposta pós moderna, Caim tenta desculpar-se: “Por acaso sou o guarda do meu irmão?” . Cada pessoa é única e irrepetível e a individualidade é preciosa. Mas não deve ser confundida com o individualismo egoísta que supõe: “eu me basto a mim mesmo, não preciso dos outros”. Esta postura bate de frente com o Evangelho. O amor é o grande mandamento e a vida de comunidade uma vocação comum.
Nascido em 1892, o pastor luterano Martin Niemöller é uma das figuras mais significativas do século passado. Ao dar-se conta do perigo do nazismo de Adolf Hitler, Niemöller tornou-se a mais importante porta-voz da resistência. Preso, passou sete anos nos campos de concentração. É dele um pequeno poema – uma candente profecia - que recebeu dezenas de versões:
“Quando os nazistas prenderam os comunistas, eu calei-me, pois não era marxista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, pois não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, pois não era operário. Quando prenderam os judeus, eu me calei, pois não era judeu. Quando eles vieram me prender, não havia ninguém para protestar”.
O mundo, hoje, é afetado pela maldade de alguns e, sobretudo, pela omissão de muitos. De nada adiantará um dia chegar a Deus, com mãos limpas, se forem comprometidas pela omissão. Respondendo como sucessores de Caim, podemos dizer: todos somos responsáveis uns pelos outros. Os outros são meus irmãos e sua sorte está unida à minha sorte. Nossa fé tem como centro “Deus é Pai e somos irmãos”.

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