sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

PARA VER, BASTA CRER.

Fala-se que no universo dos humanos há dois modos de relacionamento com as coisas criadas. Um é o modo da borboleta e do corvo que procuram situar sempre o pior, pousando sobre a decomposição e vivendo das coisas arruinadas. Esse é o jeito de quem percorre o espaço onde vive para pousar o olhar, o pensamento e o coração no lado errado da vida. Para esses nada está bem e nada vai melhorar! Se faz sol, lamenta-se o calor. Se chove, grita-se contra a umidade e o barro. No inverno, se fala mal do frio e seus efeitos prejudiciais à saúde e às plantas. No verão, o suor parece um castigo. Na primavera, se condena as alergias causadas pela floração. No outono, se cultiva o aborrecimento das folhas que caem.
Para a multidão dos pessimistas turvam-se os olhos; embarga-se a voz e amplia-se o coro dos que cantam hinos de lamentações. Esse tipo de doença do desencanto cria contágios tão negativos que parecem apressar o fim do mundo. Evidentemente, não podemos negar os cenários de morte e as ameaças ao planeta terra. Porém, não podemos paralisar os sonhos de que um outro mundo é possível. O mundo que saiu das mãos de Deus continua sendo mais esperança do que saudade.
Mas, felizmente, a maioria adota o modo do beija-flor e da abelha preferindo situar as flores que lhes oferecem a doçura como matéria-prima para o sustento e para a fabricação do mel. Tanto as abelhas quanto o beija-flor não ignoram a existência dos espinhos, nem o cheiro da matéria em decomposição, mas procuram pousada lá onde garantem continuar transformando.
A pessoa que vai aprendendo a contemplar a globalidade da criação com olhar de fé se torna muito realista e esperançosa diante de tudo. Nosso falecido  Wilson João Sperandio compôs uma canção muito sugestiva e condizente com o nosso assunto: “Em meu caminho percebo as belezas que vem da terra, do céu e do mar. Tudo me fala do amor do Criador. Oh, meu irmão, para ver basta querer. Que lindo é sentir a Deus em cada rosto do universo! A criação sempre dirá: ‘Obra de amor tu verás em mim’. Em meu caminho encontro a verdade que Deus semeou quando aqui passou. Tudo é caminho, tudo é janela aberta. Oh, meu irmão, para ver basta querer”.
Todos os bons jardineiros da criação se tornaram assim, firmados na raiz de um constante exercício contemplativo. Nessa raiz está uma certeza básica: o mundo que saiu das mãos de Deus traz as marcas originais da bondade e da beleza. A harmonia da Criação não é apenas uma profecia de Isaias, onde lobo e cordeiro poderiam comer juntos, nem somente argumento para Francisco compor o cântico das criaturas.
“Contemple a criação” é um apelo urgente para todos, especialmente para as novas gerações expostas ao risco de se abstrair do mundo real para o mundo virtual. Continua tão importante aprender a pisar na terra, a tocar nas plantas, atravessar um riacho e ver animais vivos nos campos. Não há como não se encantar com a semente a germinar, com os botões se abrindo e com o milagre da vida nas crianças que nascem. Não há como ficar insensível diante dos pobres que se unem em mutirão para construir suas esperanças. “Para ver basta querer!”

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