quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

SENTINDO O MUNDO COMO A NOSSA CASA.

Bendita inquietação de quem acorda em tempo para alertar e administrar as crises! Tanto a ecologia, enquanto ciência, como o ecologismo, enquanto movimento, despontaram para alertar a humanidade das grandes ameaças à nossa própria casa. O nosso planeta Terra está agredido! Quando se inventam técnicas irracionais e incontroladas, não é difícil que o tempo nos coloque diante do caos e da morte.
Faz bem lembrar que os movimentos de nossas mãos sempre se orientam na direção assinalada pelo nosso espírito e pela nossa mente. Por esse motivo, é sempre saudável observar qual é a cultura do espírito e da mente, para conhecer as repercussões na vida real. É o espírito que está sempre por traz dos comportamentos científicos e técnicos. É a esse espírito que precisamos chegar para saber qual é a visão atual que se tem da vida.
São muitos os modos como se interpreta a natureza: como horizonte divino, como objeto de resistência, como um conjunto de utensílios, como campo de pesquisa, como terreno de exploração, como cenário da atividade humana, como fonte de inspiração estética etc... O que se pensa da natureza acompanha o que a pessoa pensa de si mesma e seu lugar no mundo.
Depois das mais diversas visões e formas de relacionamento com o mundo, hoje parece surgir uma nova forma de relação homem-mundo. Diante dos surpreendentes segredos da criação, um novo diálogo dos humanos com a natureza se faz necessário. A natureza tem mil vozes. Faz pouco tempo que se começou ouvir com mais atenção seus clamores.
Hoje, necessitamos superar a tentação humana de nos projetar à imagem de nós mesmos. Não podemos pretender colocar tudo diante de nós, mas precisamos situar a nós mesmos no mundo com respeito e justiça, no risco de nos ver devorados pelas obras de nossas próprias mãos. Em nosso espírito e nossa mente somos chamados a elaborar a imagem do mundo como a nossa morada. Assim nos relacionaremos, partilhando um mesmo destino.
Sentindo o mundo como nossa própria casa, não o trataremos com frieza e hostilidade, mas como um universo acolhedor e fraternal. Assim a racionalidade matemática se transformará em racionalidade estética para um impulso criador. Quando a ciência se humaniza, deixa de ser um instrumento perigoso e manipulador e se converte em escuta poética da natureza. O conceito de vida passa pelas formas mais simples até as mais complexas. Por isso, aproximando natureza e vida, descobriremos um novo posicionamento ajustado às intenções de Deus e ao que mais nos convém.
A cultura da vida vê-se desafiada a superar a cultura da morte que brotou do espírito, da mente e das mãos humanas. Para elaborar um novo relacionamento não se trata de pedir que a ciência renuncie a seus avanços, mas que todos aprendamos a escutar e respeitar a múltipla linguagem da natureza.
Saber cuidar parece ser o sagrado compromisso de todos os humanos que vivemos neste planeta. Sem transformar o mundo como uma casa de acusações, cada um de nós poderá dar a sua contribuição no grande cuidado, partindo dos pequenos cuidados de cada dia, no chão onde nos situamos.

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