segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE O NATAL:

O Natal é poesia e tragicidade. É mais fácil vê-lo pelo lado da poesia e da beleza. É mais fácil. Não compromete em nada. As mentalidades burguesas gostam desse tipo de Natal. Adoram ver presépios lindos, presentes maravilhosos, mesas fartas, músicas saudosistas, abraços e beijinhos. Mas o Natal-tragicidade é um fato. É só pensar no fato de uma mãe que está para dar à luz e não tem onde parar. Ver as portas se fechando para esse ato criador. É o pequeno coração humano se fechando para o Criador do universo. A própria gruta pode ser vista como poesia. Mas também pode ser contemplada como o último recurso de busca desesperada de um homem e de uma mulher que precisam de um lugar para uma criança nascer.
O passageiro do universo desembarcou numa estrebaria. Donde veio? Não sei! Onde Ele estava morando antes? Não sei! Donde partiu para desembarcar numa gruta? Não sei! Perguntas gostosas e dolorosas! Sei que tomou a carruagem de uma mulher e de um homem e sentiu-se em casa numa pequena gruta. O universo estava todo ali. Vacas e burros, pássaros e sapos, água escorrendo pelas paredes, grilos e cigarras, flores e folhagens, estrelas e lua, pastores e reis. O universo estava ali aos pés do Senhor, desde a estrela maior até a grandeza de pequeno átomo.
Desembarcou em sua casa. Ele não veio de longe. Ele já estava ali. Estava no pasto e na manjedoura. Estava no verde e nos animais. Estava em Maria e José. Apenas surpreendeu a humanidade tomando um rosto de criança indefesa. Para a decepção dos orgulhosos, que esperavam um rei poderoso, Ele se fez um corpo frágil de criança. Parece que Deus gosta de brincar de se esconder! Não gosta de aparatos e triunfalismos. Deus deve rir muito de nossas igrejas e celebrações litúrgicas cheias de procissões, ritos, vestes pomposas e sermões. Deve rir muito dos aleluias e do engessamento dos ritos e das pessoas. Ele veio para nos ensinar a celebrar a vida e nós nos contentamos em celebrar ritos!
Muitos não o receberam. Hoje se repete o mesmo fenômeno. Todas as casas, na pequena Belém, estavam ocupadas. As pessoas se fecharam em si mesmas: “Não havia lugar para Ele”. A casa do coração humano, as casas onde as pessoas se escondem, os templos religiosos, todos estão ocupados. Todos os lugares estão ocupados pelo egoísmo e orgulho, pelas coisas e pelo dinheiro, pelo compromisso social e familiar, pela ocupação com o próprio corpo e aparência social, com o prazer pessoal e com a auto-imagem. E para caprichar na auto-imagem a criatura humana esquece sua radical condição humana, que é ser imagem do Criador. A pessoa, consciente ou inconscientemente, tornou-se o criador e a imagem de si mesma. Infelizmente continua “não havendo lugar para Ele”.
É preciso celebrar um natal cósmico. Natal não é um fato que atinge somente nossa pequena e grande mãe terra. Não há terra sem o sol, não há sol sem galáxia, não há galáxia sem o universo em expansão. Por isso é preciso celebrar o Natal com o sol e as estrelas, com a água e o vento, com o universo todo. Somos seres cósmicos. O mundo é gruta de Belém. É berço da vida. E a vida é Deus.

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