quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A PRESENÇA CORDIAL.

Ao longo de toda a história da humanidade, sempre se manteve acesa uma inquietação em desejar saber qual e quem seria o primeiro; quem estaria no princípio, a desencadear a vida e o desenvolvimento posterior do mundo. Tantas teorias desenhadas pelo esforço humano são dignas de louvor, outras apenas são lembradas como tentativas, mas na verdade a pergunta continua.
O certo é que não podemos desconhecer as possíveis teorias e nem cair na ingenuidade. Porém, para nós cristãos, no princípio não foi nem a noite, nem o caos, nem a força, nem a luz e nem a ação. Foi a Presença que cria novas presenças e relaciona-se com elas no amor criador.
No princípio foi a presença. A realidade da presença gera um sentimento, cria uma atitude e se manifesta num comportamento singular diante da vida. Essa presença atua na voz da palavra criadora e, em tudo e para tudo, cria vínculos e estreitas relações. Tudo, na criação de Deus, está entrelaçado em mútua dependência. Uma presença clama por outra presença.
Não é exagero dizer que uma das mais dignas qualidades humanas é a capacidade de ser e estar presente num vivo relacionamento positivo, contagiante e construtivo. Deus-Presença nos fez à sua imagem e semelhança para sermos também presenças. Francisco de Assis entendeu bem essa vocação e missão de ser e marcar presença. Seu grande senso do concreto e do imediato o fazia sentir-se sempre presente diante de Deus, a quem via em todos os seres e acontecimentos, presente diante de alguém ou algo com seu alto senso de fraternidade, presente diante dos animais e coisas que tanto respeitava e a quem dava o doce nome de irmãos e irmãs.
Cada pessoa tem seu próprio rosto e sua específica personalidade. Cada animal tem sua própria missão. Cada coisa tem sua própria significação e cada circunstância seu próprio valor, já que tudo é graça.
São tantas as virtudes que qualificam a presença, mas uma delas que mais merece destaque é a cordialidade que se traduz em sintonia, respeito, atenção e cortesia. A presença cordial vai transformando o que é opaco e obscuro em luminosidade e transparência. É por este motivo que, junto a esse tipo de presença, todos se sentem bem e todos gostariam de conviver.
Enquanto, na atualidade, parece aumentar a multidão dos solitários e as relações frias e impessoais com o mundo virtual, a categoria “presença” se torna cada vez mais importante e necessária. O calor humano, a ternura das relações redimidas e a presença solidária, como em nenhum outro tempo, se fazem necessárias. Na medida em que aumenta a frieza e a indiferença, o impessoal e o anonimato, também aumenta o clamor por presenças humanas maternais que saibam amparar e promover a vida.

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