sábado, 27 de setembro de 2014

VALORES OU ILUSÕES?

Bonita, elegante, 40 anos, duas filhas, supervisora financeira de uma grande empresa, como muitas outras mulheres, desdobrava-se em dupla jornada: vida familiar e profissional. Era uma quarta-feira igual às outras. Depois de preparar a refeição matinal para a família, partiu para a empresa, na zona leste da capital paulista. Na ida deixaria a filha maior, seis anos, na creche e a caçula, seis meses, no berçário.
A partir daí, o piloto automático assumiu o controle de sua vida e atividades. Havia alguns assuntos da empresa a serem resolvidos com urgência, prazos não observados, ameaças de concorrentes. Em sua mesa, o telefone não parava, o fax despejava mensagens e ordens eram recebidas e expedidas pela via eletrônica. A agitação, à beira do estresse, prolongou-se por seis horas. Depois, ela recordou as filhas e o horário marcado com o pediatra. Abriu o Fiesta de vidros com insulfilm preto e, quando jogou a bolsa no banco de trás, deu-se conta que esquecera a filha no carro! Desesperada, tomou a filha no colo, mas era tarde demais, ela estava morta, com queimaduras de terceiro grau. Foi indiciada pela polícia por homicídio culposo, isto é, sem intenção de matar.
Para ela foi uma fatalidade. Normalmente deixava o bebê no berçário e depois levava a outra filha para a creche. Na quarta-feira fatídica, ela fez o contrário, passando antes para a creche, onde deixou a filha de seis anos. Perto da empresa, viu uma ambicionada vaga e estacionou o carro. A opinião pública dividiu-se. Para uns ela foi irresponsável, assassina, para outros foi vítima.
Uma lenda antiga conta a história de uma mulher pobre com o filho no colo, que ajuntava lenha no bosque. Uma voz misteriosa fez-se ouvir: apanhe tudo o que puder, mas não esqueça o principal! E, espantada, viu abrir-se a porta de uma gruta cheia de tesouros. Teria cinco minutos para apanhar o que quisesse. Havia montanhas de moedas de ouro, diamantes, rubis, colares... Ela colocou a criança no chão e começou a encher, primeiro os bolsos, depois o avental. Amarrou a blusa e fez dela uma espécie de bolsa e colocou nela mais tesouros. O tempo estava se esgotando, ela saiu feliz da gruta e a porta fechou-se para sempre. Ela estava rica e feliz. Mas logo deu-se conta da tragédia: esquecera o filho - o principal - na gruta.
Quais são mesmo nossas prioridades? Que escala de valores temos, não na racionalidade, mas na prática? Como ocupamos nosso tempo em função das prioridades que dizemos ter? Na prática, podemos esquecer o principal, como dizia a voz misteriosa. E o tempo corre veloz. A porta da gruta - a porta da vida - pode se fechar para sempre. O que sobrará: tesouros ou miçangas, valores ou ilusões? A cada dia devemos recordar: podemos e devemos correr em busca de nossos sonhos, mas não esqueçamos o principal!

Nenhum comentário:

Postar um comentário