segunda-feira, 22 de setembro de 2014

SEJA FELIZ. O PREÇO? 20 REAIS.

A livraria estava repleta de livros de autoajuda. Contei 48 títulos, todos trazendo a solução mágica para negócios, amores, relacionamentos, fé, saúde, sorte e loterias. Quase todos traziam o pomposo título: “Como fazer”, “Como chegar”, “Como conseguir”, “Como alcançar”. Mundo mágico e tudo ao alcance do leitor por R$ 20 ou R$ 30.
Tomei nas mãos um deles, cujo título sugeria uma vida para sempre feliz. Prefiro não declinar o título. Custava apenas R$ 20. Comprei, não porque o precisasse, mas por curiosidade. Alguém estava garantindo felicidade eterna por R$ 20!
Li, pacientemente, até o fim. Cento e vinte páginas. O autor citava a Bíblia, o Alcorão, o RigVeda e os principais livros sagrados. Também os principais filósofos. Pelo número de citações bastante acuradas, o livro valeu o seu preço. Fiquei sabendo dos vários caminhos de felicidade propostos pelas mais diversas religiões, filosofias e culturas.
O livro não enganava. O autor, honestamente, apresentava aqueles caminhos como alternativas e em nenhum momento garantiu que a leitura do livro faria alguém feliz. Então, saltou-me a pergunta: se dentro do livro ele deixou claro que não queria enganar ninguém e apenas mostrava propostas de como ser feliz, por que na capa aquele título enganoso que garantia felicidade para sempre?
Caímos no marketing e nas suas falácias. Nem sempre o que está na vitrina é o que depois é vendido no balcão; nem sempre o que está na capa é o que está no livro. Nem sempre encontramos as ofertas a preços baixíssimos, porque, assim que chegamos, dizem que já foram vendidas. Mas, como fizemos uma visita - e era isso o que queriam - talvez compremos outra coisa. Nem sempre a moça de sorriso maravilhoso é quem tem as melhores maçãs para vender. As vezes as aparências enganam e o marketing também.
Aquele livro valeu pelo miolo, mas a casca mentia. As editoras fazem conosco o que a mãe faz com a criança que não gosta de se alimentar: inventa um aviãozinho! Aqui e acolá alguns livros são realmente bons, embora o título seja mentiroso. E há outros de título maravilhoso e miolo intragável.
Escrever anda fácil; ler é que está cada dia mais difícil!

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