segunda-feira, 8 de setembro de 2014

MAIS UMA VITÓRIA COMO ESSA E ESTAREI DERROTADO.

Rei do Épiro e da Macedônia, Pirro não apenas decidiu enfrentar Roma, senhora do mundo, como também levar a guerra à península itálica. Formou um grande exército e bateu os romanos na batalha de Àsculo. A novidade nesta batalha foi a introdução de elefantes ao lado da infantaria. A estratégia deu certo e os romanos perderam cerca de 6 mil soldados. Mas o triunfo teve um grande preço a pagar e Pirro, ao analisar suas perdas, comentou: “Mais uma vitória como essa e estarei definitivamente derrotado”.
O episódio fez surgir a expressão vitória de Pirro. São aquelas conquistas enganosas. Ao contrário, há derrotas positivas. Há vitórias que abastardam e derrotas que dignificam. Charles Peguy, escritor e soldado francês, morreu na batalha do Marne, na primeira Guerra Mundial. Fazendo seu elogio fúnebre, um colega proclamou: felizes os que morrem nas grandes batalhas! Morrer se constitui em perda e tristeza, mas morrer numa grande batalha indica a dimensão de uma vida, indica uma causa pela qual vale a pena viver e mesmo morrer.
A vida de uma pessoa é marcada por uma causa, por um ideal. É um sentido que, de alguma maneira, marca todas as nossas ações. É um dinamismo prodigioso que nos faz agir e sonhar. Naturalmente um sonho deste tamanho tem um preço a ser pago. Herói na luta pela independência do Brasil, Tiradentes, antes de subir à forca, declarou: mil vidas daria, se mil vidas tivesse. A luta por um ideal pode significar renúncia, incompreensões, perdas, mas assumidas com alegria. O Evangelho fala de um tesouro escondido (Mt 13, 44). Em função dele, um homem vende tudo o que possui e compra o tesouro. Ele parece fazer um mau negócio, mas a sabedoria evangélica garante que ele é feliz com a troca. É ainda o Evangelho que fala numa escolha, aparentemente, estranha: saber perder. E esclarece que esse saber perder pode significar uma grande vitória.
E a história está marcada por homens e mulheres que souberam perder, que trocaram tudo pelo tesouro escondido: Francisco de Assis, Inácio de Loiola, Teresa de Calcutá, Mahatma Gandhi, Martin Luther King... Outros preferiram o mais fácil e por isso foram esquecidos para sempre.
De resto, a luta tem um sabor todo especial, mesmo que a vitória não aconteça. Um dia Deus nos questionará a respeito da luta, não sobre eventual vitória. Mesmo porque o triunfo nem sempre depende de nós. Depende de nós a luta. E realmente são felizes os que morrem numa grande batalha, morrem lutando por um ideal.

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