terça-feira, 1 de julho de 2014

OS DEFEITOS QUE VEMOS NOS OUTROS, QUASE SEMPRE ESTÃO EM NÓS.

Andando por uma estrada do interior, chão batido, altas horas da noite, o motorista sentiu um balanço no carro. E seus piores temores se confirmaram. Apesar das promessas dos vendedores, o pneu estava arriado. E uma desgraça não costuma vir só: estava sem o macaco. A perspectiva era passar o restante da noite no meio do mato, possibilitando até um assalto. Mas uma luz se fez em seu cérebro. Lembrou de ter visto, a três quilômetros, uma pequena oficina mecânica. Lá, certamente, seria possível conseguir o indispensável macaco Trancou o carro e foi caminhando na noite fria e - menos mal - enluarada. Um pensamento surgiu em sua cabeça. E se o proprietário da oficina se aproveitar da situação e quiser cobrar pelo serviço? O macaco era necessário e ele pagaria. Quem sabe, imaginou, ele pedirá trinta reais. E se ele pedir cinquenta? Depois de caminhar um quilômetro, em sua imaginação, o preço foi subindo: cinquenta, cem reais... O Brasil está cheio de gente assim, de gananciosos. E se ele pedir 150 reais? É um abuso, mas não tenho alternativa.
Chegando à oficina, bateu com insistência no portão. O proprietário acendeu a luz e surgiu na janela perguntando o que ele precisava. Com raiva o viajante gritou: pois fique com seu maldito macaco, que eu não vou pagar 200 reais pela sua utilização. E deixando o sonolento dono do estabelecimento sem compreender nada, retornou ao seu carro, à espera do clarear do dia.
Um provérbio popular garante: dize-me o que criticas e dir-te-ei o que és. O Evangelho esclarece: “O olho é a lâmpada do corpo. Se o olho for são, todo o corpo será luminoso” (Mc 6,22). É ainda o Evangelho que recomenda tirar a trave do próprio olho antes de querer tirar o cisco do olho do irmão. Um personagem do livro Os Noivos, de Alessandro Manzoni, garante: tudo é puro para aquele que é puro! Vale a alternativa contrária.
Existe a tentação de atribuir aos outros nossos defeitos. Passamos até por cima dos fatos e imaginamos as intenções. O egoísta está sempre vendo egoísmos nos outros, o invejoso vê inveja em toda a parte. E não faz caso da advertência : não julgueis e não sereis julgados.
O homem sereno e equilibrado verá qualidades nos outros. E quando o erro fica evidente, mesmo assim, encontra desculpas e atenuantes. Os defeitos que percebemos nos outros estão, quase sempre, em nós. Esta é a tendência comum. A maturidade pede que avaliemos as razões profundas, as raízes, dos nossos sentimentos e reações. É deselegante atribuir aos outros os nossos defeitos.

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