quinta-feira, 17 de julho de 2014

É PRECISO ESCUTAR A NATUREZA.

O mosteiro erguia-se numa região isolada, ao sopé de uma montanha. O ar puro, as árvores, flores, riachos e o silêncio convidavam à oração Numa noite, o irmão Policarpo se encontrava em oração. Apesar do esforço não conseguia se concentrar, atrapalhado pelo coaxar de uma rã. Vendo que seus esforços eram inúteis, o irmão foi à janela e gritou: Silêncio! Eu estou rezando! E como o irmão era um santo, sua ordem foi imediatamente obedecida. Não só a rã, mas todos os seres vivos calaram suas vozes a fim de que o silêncio pudesse favorecer sua oração.
Um silêncio opressivo reinou em toda a parte. Mas outro som inesperado veio então perturbar o monge. Era uma voz interior que lhe dizia: talvez Deus goste do coaxar da rã como da tua recitação de salmos... Espantado, o religioso começou a pensar: o que pode haver de tão maravilhoso na voz da rã que possa agradar a Deus? E a vozinha interior continuou: por que razão achas tu que Deus inventou o som? Fez-se uma luz interior e o irmão foi, novamente, até a janela e gritou: Canta! E o coaxar rítmico da rã tornou a encher o espaço e com ela todas as outras rãs e todos os outros animais e insetos. E a noite encheu-se de uma música divina.
Algumas vezes tentamos rezar a Deus fora ou à margem do mundo em que vivemos. Isso significa enclausurar-se no silêncio e na solidão. Não é assim. Toda a criação canta os louvores ao Senhor e não podemos fazer coisa melhor do que associar-nos a ela. “Todo o ser que respira louva ao Senhor” lembra o salmo 150.
Os mestres de espiritualidade costumavam dizer: ante de entrar na Igreja, deixa tuas preocupações atrás da porta. Parece mais lógico pedir ao fiel: reze em cima das tuas preocupações.
Na realidade, rezar consiste mais em escutar do que em falar. Escutar a natureza, escutar a Palavra de Deus, escutar os gemidos dos que estão sofrendo. O que precisamos é deixar-nos guiar pelo Espírito, que brada dentro de nós, chamando a Deus de Pai. Jesus foi o pregador dos caminhos e suas parábolas estão cheias do cotidiano. Ele fala dos pássaros dos céus e dos lírios do campo, da rede cheia de peixes, dos trigais maduros, dos figos, do fermento...
Discípulo apaixonado do Mestre, Francisco de Assis via no mundo o seu templo, onde percebia, nitidamente, a voz de Deus. E por isso ele cantava junto com a irmã cigarra, com a irmã rã, com o irmão vento. Não podemos pensar que Deus apenas reside no templo. É nas frestas do cotidiano que mais facilmente O encontramos. Rezar não é apenas falar a Deus. Precisamos escutar o salmo da criação. Precisamos - sobretudo - escutá-lo. Isso significa unir fé e vida. Isso significa unir o domingo à semana, unir a prece ao cotidiano.

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