quarta-feira, 16 de agosto de 2017

HOJE TEM VELÓRIO, DESCULPE O INCOMODO

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Às vezes eu me sinto como o sujeito lírico do Poema em Linha Reta, de Álvaro de Campo (Fernando Pessoa): todas as famílias são felizes, só a minha reles, só a minha vil. Todo mundo vive numa família de margarina, sorridente, unida, hipócrita, menos eu.

Domingo, dia dos pais, dei de cara com o perfil de uma pessoa que nunca vi na minha vida. Sorridente na foto com o filho, ele sintetizava assim a sua biografia: um bom pai. Pois o bom pai deu-se o trabalho de entrar no blog da Presidenta Dilma, ler o texto que ela publicou para homenagear o ex-marido, o ex-Deputado Carlos Araújo, para fazer o seguinte comentário: “vai com ele”. Este bom pai de família exprimiu publicamente o desejo que uma mulher morresse assim, sem maiores explicações. Para um bom pai de família isso deve ser óbvio. Deve ser óbvio dar um exemplo de ódio, de intolerância, de machismo, de incitação à violência.



Exceção à regra das famílias margarinas? Não acredito. A hipocrisia de compactuar com a figura do bom pai cheio de ódio no coração é a condição básica para engolir tudo o que é aberração, como a gordura. E hipocrisia é o que não falta. Por exemplo, naquela família em que o pai tentou matar a mãe envenenada, depois de a ter traído inúmeras vezes. Mas ele é bom pai e bom avô, deu exemplo para todos. Por exemplo, o pai que batia na mulher, até que ela tentou o suicídio, e conseguiu morrer. Por exemplo, o pai que escondia os filhos fora do casamento, com a conivência de alguns parentes. Esses pais, por exemplo, são homenageados por seus filhos, como bons filhos de bons pais. A hipocrisia incha o fígado como margarina.

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