domingo, 13 de agosto de 2017

ELE ME VISITOU.

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João Carlos Resende é médico oncologista e trabalha no Hospital do Câncer de Barretos, um dos maiores da América Latina, que recebe pacientes de várias partes do Brasil. Por isso, a rotina é corrida, com um número elevado de atendimentos diários. Em meio à correria e a dor estampada em seus pacientes, o bondoso médico tirou um tempo para relatar um episódio que ele denominou como ‘um encontro com Deus’.
São dele as emocionante palavras sobre uma humilde e idosa paciente com câncer: ‘Semana cansativa, coração agitado, mente num turbilhão. Deus hoje resolveu me visitar. Ele tinha um corpo franzino, rosto marcado pelo sol, mãos com sutil aspereza de quem trabalhou pesado a vida toda e um cheiro de lavanda misturado com as cinzas de um fogão a lenha. Ele falava de um jeito bonito e simples.

Vestia a melhor roupa que tinha, colorida, bem cuidada, mas respingada da sopa que serviram antes da consulta. Seus olhos fugiam dos meus. Como podia Deus se fazer pequeno assim? Parecia envergonhado, ansioso pela notícia, infelizmente não tão boa. Estava cansado da viagem, da sala de espera lotada e de anos de luta contra o câncer. A doença mudou, progrediu e voltou a judiar. Aquele remédio que tanto nauseava aqueles poucos quilos tão frágeis se faria necessário mais uma vez.

Mas, doutor, não diga isso, falou a humilde senhora. O médico exclamou: Dona Socorro, não fica triste. O doutor aqui tem coração mole e pode chorar. Olhou para mim e pude ver o brilho dos seus olhos querendo dizer: vou chorar em casa, para o senhor não olhar. Fiquei pensando: como pode Deus me visitar assim. Ali acabou meu cansaço. Examinei aquele corpo pequeno.

Pensava comigo o quanto eu queria retirar cada um daqueles tumores e ao mesmo tempo me emocionava porque, com aquela visita, Deus retirava cada um dos meus tumores, não físicos. No final de tudo, depois de eternos poucos minutos de graça, ela olhou para mim e disse: Doutor, o resto pode estar doente, mas meu coração é grande e bom. Então, já emocionado, apenas pedi um abraço e agradeci por tudo aquilo. Ela voltou-se e foi embora. Não tive dúvidas: através daquela humilde senhora, Deus me visitou, me curou e me deu forças para continuar.

O dedicado médico conseguiu ver os traços de Deus naquela humilde e adoentada senhora. Esse é o passo fundamental para quem cultiva a espiritualidade: não procurar um Deus distante, perdido nas nuvens, mas um Deus que se faz visível através de tantos gestos humanos.

Deus é criativo quando deseja ser encontrado. Por outro lado, a agitação diária e a procura pelo extraordinário não permitem que muitos vejam Deus em suas incontáveis manifestações. Todos procuram o rosto de Deus. Ele não está distante. É necessário prestar atenção nos detalhes diários: Deus gosta de surpreender, disfarçado pela simplicidade. Aquele médico deixou que Deus o encontrasse naquela simples mulher. Uma visita inesquecível.

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