quarta-feira, 10 de maio de 2017

QUAL O MAIOR BEM QUE PODEMOS FAZER?

Qual o maior bem que podemos fazer? Não há dúvida, o maior bem que podemos fazer é dar a vida aos outros, sacrificar a si em nome do outro. Ou, um pouco abaixo disso, vender tudo que se tem, dar aos pobres e seguir o caminho de Jesus ou de Buda... Dar a vida e dar o que a vida lhe deu, ou se conquistou na vida, sempre será o maior bem. Mas, quem está à altura desse ato grandioso? Poucos, demasiadamente poucos, sobretudo num tempo como o nosso em que nos apegamos à vida e aos prazeres da vida como se fossem a razão última do ato mesmo de viver. É por conta disso que altruísmo radical é tão excelso quanto raro.

Qual, então, o maior bem que podemos fazer, sem exigirmos o quase impossível, que é dar a própria vida e os bens que ajuntamos na vida? Essa pergunta tem um caráter eminentemente ético, mais do que religioso, e é o ideal moral de um movimento mundial chamado de “altruísmo eficaz”.

O que é o altruísmo eficaz?

O altruísmo eficaz é um movimento mundial de inspiração ética que não se satisfaz com a posição cômoda, que é a ética que segue regras e normas, por exemplo, não matar, não roubar, não mentir, não trair etc. Não que seguir essas normas seja ruim, mas são insuficientes, sobretudo para quem está em uma situação privilegiada economicamente e vive numa sociedade excludente, desigual e até convive com a fome, o sofrimento e a morte do outro, exatamente por falta de alguém que seja eticamente sensível para diminuir o sofrimento e a morte onde é possível.

O altruísmo ético é, pois, uma postura ética que supera tanto a ética das intenções, aquela ética que segue regras e normas com caráter de imperativo categórico como acima exposto (não matar, não roubar etc) quanto o egoísmo ético que postula que cada um tem que pensar somente em si e na sua família, no máximo. É preciso fazer o maior bem possível, sem olhar a quem se faz, mesmo que esse alguém seja um desconhecido, diz o altruísta eficaz.

O altruísmo eficaz tem seu maior representante o filósofo Peter Singer que, recentemente, escreveu um belíssimo livro exatamente com esse título: O maior bem que podemos fazer: como o altruísmo eficaz está a mudar as ideias sobre viver eticamente.

Peter Singer não é só um teórico. Ele mesmo assumiu, na prática, o que escreveu sobre o dever de ajudarmos os outros e a diminuir o sofrimento do mundo, inclusive dos animais. Ele defende a ideia de que se está ao nosso alcance ajudar a alguém que precisa, e essa ajuda não requer que sacrifiquemos nada de importância comparável, então por que não ajudar? Ele mesmo, Peter Singer, doa para organizações não governamentais, publicamente reconhecidas como transparentes e eficazes, mais de 25% de tudo o que ele e sua esposa ganham com seu suor. É um exemplo que deveria fazer a nós cristãos, Peter Singer é ateu, corar de vergonha!

Não estará na hora de questionarmos não só política e economicamente o capitalismo liberal, mas, sobretudo, moralmente, pelo mal que causa aos pobres do mundo e a insensibilidade do próprio sistema que a todo instante exige mais austeridade fiscal resultando em menos benefícios aos que realmente necessitam? E não estará na hora de individualmente questionarmos a própria posição de conforto e consciência tranquila, por não fazermos o mal, e passarmos a fazer o maior bem possível?

Não basta não fazer o mal, é imperativo moral fazer o maior bem possível. Somos exímios em criticar quem ajuda, inclusive quem ajuda os animais abandonados na rua, dizendo que não resolve, mas não estará na hora de nos juntarmos aos que fazem o bem, ao invés de ficarmos no conforto e na consciência tranquila por nada fazer de mal?

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