terça-feira, 9 de maio de 2017

LIMITES DO HOMEM

Horas antes de ser confirmada a morte cerebral da ex-primeira-dama nacional, Marisa Letícia, manifestações de ódio, intolerância e preconceito correram via redes sociais. O gesto de solidariedade com familiares enlutados não é apenas de uma questão de respeito, de sentimento humano e religioso, mas de ética e de dignidade com os entes queridos. E ética tem somente quem cultiva as virtudes do respeito e do cuidado digno dos moribundos.

Os ataques via redes sociais à ex-primeira-dama Maria Letícia mostraram uma parcela da classe rica enfurecida de ódio e intolerância. O neurocirurgião Richam Faissal Ellakkis, representante desta classe, sugeriu um procedimento para matar a ex-primeira-dama, em comentário no WhastApp: "Esses fdp vão embolizar ainda por cima. Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela". O médico acabou demitido juntamente com a médica Gabriela Munhoz por compartilhar informações sigilosas de Marisa Letícia. O médico e diretor do Hospital Sírio-Libanês, Roberto Kalil Filho, justificou a demissão: “quando afrontam a ética, quebram o juramento de Hipócrates proclamado ao receberem o título de doutor e compartilham publicamente segredos e sentimentos a eles confiados, os médicos violam um dos princípios mais sagrados da profissão, o sigilo médico. O caso revela um dos lados perversos do comportamento humano, reprovável e absolutamente inadmissível para quem se apresenta como médico”. Outra demonstração de ódio contra Marisa Letícia partiu do procurador de Justiça de Minas Gerais Rômulo Paiva Filho, que compartilhou: “Morre logo, peste! Quero abrir logo o meu champagne!”.

Os comentários não ferem somente a ética profissional da medicina, mas beiram uma variável criminal. O desprezo pela vida ultrapassou a bestialidade. O termo bestialidade surgiu do latim bestia, que significa, literalmente, animal. A palavra é interpretada como sinônimo de indivíduo ignorante, estúpido, tolo, de um comportamento não civilizado. Segundo a Bíblia, comportamento besta demonstra a ignorância do homem que age como criatura irracional (Sl 73,22); designa grandes poderes (Jr 10,8; Dn 7,3-23); os chamados anticristos (Ap 13,1; 20,10).

Diferentemente do grupo de médicos neurologistas e do promotor de justiça, adversários políticos de Lula foram até o Hospital Sírio Libanês para prestarem condolências. Acompanharam este gesto milhões de brasileiros e vários ministros do Supremo Tribunal Federal. Mas diante da bestialidade humana, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) adverte: “Precisamos chamar a atenção para a compaixão, que talvez seja a premissa para distinguir o ser humano de uma besta". Outra exortação vem do jurista Celso Antônio Bandeira de Mello: “Os ataques à ex-primeira-dama Marisa Letícia e manifestações de pessoas que comemoraram sua morte são coisas típicas da classe média alta, constituída por uma escória, uma ralé”. No Brasil, constata-se que após o golpe parlamentar de 2016 as pessoas não suportam mais o diferente, os adversários políticos. Vive-se um grave risco para a paz social da nação, pois cresce a bestialidade.


Miguel di Biazi

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