segunda-feira, 15 de maio de 2017

A VIDA EM BOLHA

Diz-se por aí que a internet, e suas redes sociais, são gaiolas que a todos capturam formando “bolhas de amigos” que curtem e compartilham o mais do mesmo, fechados ao diálogo com o diferente e que, por sua vez, também vive em sua “bolha-mundo”.

De fato, a comunicação, o diálogo aberto e franco com o diferente e até estranho, com a possibilidade de crítica e autocrítica que vá construindo positivamente as identidades e as subjetividades, sem intolerâncias, ressentimentos e ódios, parece ser um ideal distante, sobretudo no Brasil, em tempos sombrios de cenário político polarizado em que se é a favor ou se é contra, sem espaço para terceira opção. O contrário disso, contudo, é que seria quase ideal, isto é, quando duas pessoas pensam igual, uma é dispensável!

Mas a vida em “bolhas” é antiga, bem antes da internet. A família é uma bolha. Os sindicatos são bolhas. As comunidades científicas são bolhas. Os partidos políticos são bolha. As ideologias são bolhas. As igrejas são bolhas (O papa Francisco, porém, não!). A cultura é uma bolha. A linguagem é uma bolha. O limite da linguagem é o limite do meu mundo, dizia Wittgenstein. O limite da bolha é o limite do meu mundo, daria para dizer, parafraseando o filósofo.

Bolha parece indicar um espaço-mundo fechado e os que o habitam pensam mais ou menos igual e, reproduzem o que pensam, pela interação. Quem vive na mesma bolha é um igual e os que estão fora são os diferentes, estranhos e, até, inimigos. A bolha dá identidade sem passar pela diferença e esse é um perigo. Mas o maior perigo é de que os que vivem em bolha pensam que o seu “bolha-mundo” é o certo, verdadeiro e bom e o “mundo-bolha” do outro é o errado, falso e do mal.

Platão imortalizou a ideia de que o homem comum vive preso a uma caverna. O que é a caverna de Platão senão uma bolha? Mas Platão imaginou que o filósofo e o pensador seriam capazes de romper as amarras que os prendem à caverna e se libertarem para o mundo da luz, metáfora do conhecimento e da ciência. Os filósofos e pensadores são aqueles, diz Platão, que superam os limites da ignorância e das ideologias do mundinho fechado e conquistam, não sem esforço, o mundo de sabedoria, de universalidade, verdade e bondade. Um gênio esse Platão! Mas, por onde andarão os filósofos e pensadores que circulam fora das bolhas? Se alguém encontrar algum, avise os navegantes!..

Penso que estamos todos, inclusive os pensadores, envoltos em alguma caverna ou “bolha-mundo” sem chance de libertação total. O que podemos fazer, contudo, é escolher qual bolha queremos habitar, ou será que é a bolha que nos escolhe? Pretender-se livre, totalmente livre, flutuando por cima da “bolhas-mundo” polarizadas, senhor de si e acima do bem e do mal, acima das ideologias, acima da esquerda e da direita, acima das vicissitudes do tempo, está mais para mito do que para realidade.

Contudo, há de se desejar estar para além da prisão da caverna escura da ignorância e das ideologias que nos amarram. Há de se desejar, se esforçar e se abrir ao diálogo e ao rompimento dos fechamentos dogmáticos da vida em bolha, que geram ódios, ressentimentos e violência. Há de se desejar a saída da caverna. E quem sair e se libertar, lembre-se, que os que aqui ficaram, por vós esperam! Socorrei-nos, sem demora!

Nenhum comentário:

Postar um comentário