quinta-feira, 4 de maio de 2017

PENSE NISSO.

Uma democracia se caracteriza por favorecer a cidadania de direitos. Direito à alimentação, saúde e educação. A uma vida digna e feliz. Direito ao trabalho e ao lazer, à moradia e à cultura. Direito de escolher seus representantes políticos e se beneficiar da proteção social custeada pelos impostos que o cidadão paga.

A democracia é sabotada quando o governo sonega direitos ao cidadão. Flexibiliza as leis trabalhistas ao romper cláusulas pétreas dos contratos laborais que impedem a superexploração da força de trabalho e o fortalecimento dos privilégios do capital.

A democracia entra em colapso quando direitos básicos, como saúde e educação, se tornam produtos caros a serem negociados no balcão do mercado. E também quando o governo privatiza o patrimônio público, reduz o Estado a mero gerente de interesses particulares, e manda às favas os escrúpulos e garante a governabilidade por meios escusos, como o conluio criminoso entre políticos e corporações empresariais através da corrupção.

Essa falácia democrática segue a lógica de que não deve haver cidadania de direitos, exceto para a elite, o que transforma direitos em privilégios. Deve haver “cidadania” de bens, de acesso ao mercado de consumo, de mimetismo cultural, de aspirações dos remediados e da classe média aos padrões de consumo das nações metropolitanas.

Quando a cultura narcísica do ter predomina sobre a cultura humanística do ser é sinal de que o tecido social começa a se esgarçar. Virtudes como solidariedade, voluntariado, acolhimento e respeito às diferenças são implodidas. Cedem lugar à competitividade, ao individualismo, à vaidade exacerbada, aos preconceitos e discriminações. A harmonia social se vê ameaçada pela violência da imposição arbitrária de usos e costumes, e pelo agravamento das diferenças sociais. Então a sociedade, qual manada tocada ao curral, aceita trocar liberdade por segurança.

Os tempos mudam. Inútil sonhar com a volta ao passado. Agora a informatização estabelece novas modalidades de relações sociais. E essas ferramentas tecnológicas não são neutras. Ditam comportamentos, atitudes, novos paradigmas. Por isso é preciso impedir que estimulem o solipsismo, esse dar de ombros para o que se passa em volta por quem não se interessa senão pelo próprio umbigo.

As redes sociais podem e devem tecer vínculos de solidariedade, e propiciar plataformas de protestos e propostas. É preciso desimbecializá-las como meros nichos de desconstrução do outro. Os problemas não estão nos indivíduos, e sim nas instituições, nas estruturas, no sistema. 

De nada adianta querer cortar a árvore podre sem considerar a doença que contamina a floresta. Sem a visão macro do processo social cai-se no atoleiro do emocionalismo bizarro, infantil, que em nada contribui para se formular um projeto alternativo de sociedade.

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