quarta-feira, 21 de abril de 2010

O QUE FAZER PARA SABER SE É JORNALISMO OU PROPAGANDA POLÍTICA

Se você quiser informar-se corretamente sobre as eleições, acompanhe com olhar bastante atento e crítico a cobertura política providenciada pelos meios de comunicação social sobre o tema. Quase sempre influenciada pela paixão ideológica ou, em diversas circunstâncias, irremediavelmente comprometida por ela, a atuação da mídia deve ser vista com prudente distância e uma dose razoável de ceticismo. Refém da preferência (ou da repulsa) por partidos e até mesmo por pessoas, boa parte da imprensa terá grandes dificuldades para desempenhar o ofício de reportar, com sobriedade e lucidez, os eventos relacionados ao pleito de outubro.

1. Nunca deixe de conferir o expediente do jornal e das revistas ou a seção "quem somos" dos sites e blogs que você freqüenta. Preste atenção na ficha técnica do telejornal ou do noticiário radiofônico de sua preferência. Veja quem está no comando. Procure saber os antecedentes dos responsáveis pelos órgãos de comunicação. Pergunte sobre eles para alguém em quem você confia e que pode ter referências seguras a respeito dos profissionais em questão. Tente, em prospecção cuidadosa, conhecer melhor o pensamento e o comportamento de tais pessoas.

2. Despreze as matérias anônimas. Combata as denúncias sem assinatura e as notícias que circulam sem autoria conhecida e confirmada. Certamente são peças fabricadas por candidatos e partidos ou por militantes de má-fé. Atualmente, existem até empresas especializadas nas técnicas da calúnia, da injúria e da difamação, sobretudo pela internet (algumas delas, contratadas para fazer a campanha eleitoral que se aproxima, já estão em plena atividade).

3. Investigue as posições adotadas pelo jornal, pela revista, pelo site ou blog, ou pela emissora de televisão ou rádio em relação aos candidatos e a seus partidos nos últimos anos. Qual tem sido a postura padrão empregada para tratá-los? Que tipo de avaliação merecem em seus editoriais? Construa uma pequena série histórica a respeito. Não dá tanto trabalho e pode ser de uma utilidade incrível, revelando animosidades ou preferências que resultam, antes de tudo, de alianças históricas ou de oposição consolidada ao longo do tempo.

4. Para entender melhor o que dizem os veículos de comunicação, procure descobrir se os seus proprietários ou diretores foram prejudicados ou beneficiados pelos candidatos ou partidos participantes das eleições. Contratos, empréstimos, favores... tudo isso é vital para compreender o sentido do conteúdo jornalístico que editam.

5. Consulte regularmente vários veículos de comunicação. Não se restrinja a um ou dois, ainda que você não disponha de tanto tempo nem de muito ânimo para tal tarefa. Não recorra apenas a publicações editadas por duas ou três empresas. Diversifique. Inclua em seu cardápio veículos regionais, especializados, comunitários, religiosos, estudantis ou sindicais. Reúna energia! Vale a pena. Afinal, as eleições só ocorrem de vez em quando.

6. Compare os veículos: levante as semelhanças e as diferenças entre eles. Comece a perceber a escolha das pautas, as omissões, as contradições, as inconsistências, as ênfases. No caso de jornais, revistas, sites e blogs, observe também os aspectos gráficos e a diagramação com que se apresentam. Como estão dispostas as notícias, em que ordem, de que tamanho?... Quem ganha a capa? E as manchetes? Quem aparece bem nas fotos? Fique atento: não acredite facilmente no que mostra a mídia sem que você a submeta ao seu controle rigoroso de qualidade. Lembre-se de que ela tem objetivos que não são necessariamente os de atuar com equilíbrio e serenidade ou de deixar você bem informado.

7. Vá às fontes mencionadas na notícia. Hoje em dia, praticamente todos os partidos e candidatos têm seus próprios espaços na internet e se comunicam diretamente com o cidadão. Ouça o que eles têm a dizer, sem a mediação da imprensa. O recurso a esse expediente se torna ainda mais importante se a notícia veiculada nos meios tradicionais embute algum ataque à honra ou à dignidade de alguém. Infelizmente, será muito difícil saber o que a "vítima" tem a dizer sem que você recorra aos canais de comunicação que ela mesma organizou (ela pode ter sites ou blogs em que fatalmente exporá suas razões). No Brasil, o instituto do direito de resposta, ainda que previsto pelo artigo 5º da Constituição Federal, é de concretização lenta e trabalhosa e depende da celeridade, da coragem e do rigor de uma Justiça com que não se pode contar.

8. Sempre que possível, assista ao horário eleitoral gratuito na televisão ou acompanhe o programa pelo rádio. Não o rejeite. Ele é conquista da democracia e dá a todos chance justa de divulgar seu ideário político.

9. Acompanhe, sobretudo, os debates entre os candidatos. Comente com seus amigos, familiares e colegas de trabalho o que você achou de cada um deles.

10. Vá a comícios, reuniões, conferências. Pergunte diretamente aos candidatos o que você considera importante. Converse muito sobre as eleições com as pessoas do seu círculo de relacionamento. Troque idéias. Proponha questões. Crie oportunidades de reflexão coletiva. Aja com a mente aberta, sem preconceitos, com predisposição para surpreender-se e aprender.

Finalmente, mantenha sempre muito clara a noção de que a política é parte importantíssima da vida em sociedade e, por isso, jamais deve ser deixada de lado. O preço que se paga por uma atitude negligente é muito alto.

Um comentário:

  1. Rui, estes mesmos criterios deveriam ser observados pelos seus leitores também, ou não?

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