quarta-feira, 14 de março de 2018

VOAR EM BANDO

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O tempo tem sido escasso para todos. Mesmo assim, é possível reservar uns minutos diários para observar o que nos rodeia. Gosto de olhar pela janela, perceber as condições do tempo, observar alguns detalhes presentes na natureza, ouvir os diversos sons, o ruído do balançar dos galhos das árvores. Confesso que os pássaros conseguem prender minha atenção. Alguns cantos conseguem me transportar à infância, quando o contato com a terra era mais intenso, o colorido dos passarinhos causava admiração, os córregos molhavam os miúdos pés descalços. Não se trata de saudosismo, mas de lembranças que fazem bem, que eliminam distâncias geográficas e temporais, que permitem trazer o ontem para o hoje. Faz um bem enorme dar uma escapadinha e visitar o passado. Nesses momentos tenho a impressão de que os vazios existenciais, por uns instantes, se preenchem. Facilmente me surpreendo rindo sozinho, recordando as travessuras e a criatividade daqueles inesquecíveis primeiros anos de vida.

Continuo olhando pela janela e vejo os pássaros voando em bando. Dificilmente um pássaro é solitário. Se está sozinho, talvez seja pela necessidade de procurar alimento. Na hora de recolherem-se, voam em direção à árvore eleita como pousada. No outro dia, sem a necessidade de maestro, acontece a alvorada festiva. Não sei se tem um responsável pelo horário, mas são pontuais, quanto ao início e ao término. Em seguida voam para os diversos espaços: é necessário dar conta da auto sustentação. Ninguém aplaude a sonora apresentação, ninguém os elogia, mesmo assim eles continuam cantando, sem falhar um dia se quer. Meu pensamento vai um pouco mais longe e chega até os humanos. Me dou conta que a solidão tem visitado muitos corações. As pessoas preferem cantar sozinhas, também caminham sozinhas. Para muitos não falta o pão de cada dia, mas falta a companhia, o toque, o olhar, o abraço.

A vida é um maravilhoso presente. Porém, desde cedo é necessário aprender que viver só tem sentido se houver convivência. Tudo seria diferente se aprendêssemos a cantar juntos, rir em grupo, secar mutuamente as lágrimas, falar das coisas simples da vida, escutar as histórias alegres e tristes. Talvez não seja bem a falta de tempo o maior problema. Pensar só em si, querer o melhor para si mesmo, não se aproximar e nem se dedicar aos outros: aqui reside o princípio de algumas histórias que não terminam num final feliz. Encontrar-se não é uma obrigação, mas o primeiro passo para ampliar os horizontes existenciais. É triste ser feliz solitariamente. Os pássaros cantam juntos, voam em bando, habitam os galhos da mesma árvore. Antes do nosso voo final, vamos cantar juntos, independente da melodia. Talvez não haja tempo para um ensaio, mas valerá a pena entoar o hino da esperança e do amor. Agora vou fechar a janela e dar conta das outras atividades e dos compromissos.

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