segunda-feira, 12 de março de 2018

ÉTICA E VIOLÊNCIA

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A violência é o que não deve ser. Ao que não deve ser, mesmo que às vezes ocorra, nós chamamos de ética. Ética, o que deve ser, o que seria bom que acontecesse para o bem de todos, é um construto humano em vista da vida boa. A ética não é um estado de natureza e tampouco tem a natureza como medida. A ética é um acordo do que deve ser, em vista da vida boa. Um acordo que orienta a ação humana para o bem de cada um dos participantes do mesmo. Onde o acordo em vista da vida boa para todos os participantes da sociedade se efetiva, temos então uma civilização, ou pelo menos um processo civilizatório. Fora de acordos éticos e um processo civilizatórios, o que resta é a barbárie.

A civilização com base na ética é o processo de afastamento, ou no mínimo, de controle da violência dentro de limites razoáveis. Lá onde no princípio, no meio e no fim imperar o Logos, a palavra, a conversação, o diá-logo, a intersubjetividade reconhecida em direitos, há uma civilização ancorada no ético. Lá onde impera a violência, retira-se o ético e aproxima-se o mal, o que não deve ser. Violência é sinônimo de mal. Violência é, pois, sinônimo de antiético. Violência é a não-razão, é a perda da razão e da razoabilidade. Violência é o que sobra quando a razão se retira. É possível dizer de outra forma. A violência é o que fica quando o amor se vai. Razão e amor são a forma humana de afastamento e controle da violência. A razão e o amor são os fundamentos últimos da ética. O amor e a razão é o que nos salva da feiura da violência e da banalidade do mal.

A razão e o amor podem ser violentos? Seria confortável e reconfortante se pudéssemos responder a essa pergunta com um sonora e definitivo: não! Mas, infelizmente, responder “não”, seria apenas um autoengano. Na verdade, a complexidade da condição humana não nos permite uma conclusão simplificadora. Sim, às vezes, a razão é violenta e, às vezes, o amor é violento sem deixar de ser amor. E não estou falando da deturpação da razão e do amor. Não. Estou falando no seu sentido mais positivo possível. É por amor que Jesus se enfurece e expulsa os vendilhões do templo. É por racionalidade que prendemos e enjaulamos (haverá violência maior?) quem afronta as regras da boa convivialidade em sociedade. É por amor e por racionalidade que a mãe puxa a orelha do filho para lhe corrigir comportamentos. É por racionalidade e amor, por ética, portanto, que temos o dever de deter, mesmo com a morte, quem violentamente oprime uma comunidade, como é o caso dos grandes ditadores...

Assim as coisas são, complexas. Simplificadores são os livros de autoajuda. Se não fossem simplificadores, não seriam de autoajuda. E filosofia e teologia não são autoajuda. Filosofia e teologia são a via longa da reflexão, e não a via curta de solução fácil para questões que exigem elasticidade e complexidade de pensamento. Diante de coisas complexas vale o conselho de Baruch Espinosa: nem rir, nem chorar, compreender!

O que foi dito acima serve como introdução ao problema da violência e sua superação, proposta pela Campanha da Fraternidade de 2018. E serve, também, como uma explicação do conceito de violência que orienta a Campanha.

No manual da Campanha da Fraternidade lemos que a violência se caracteriza pelo “uso intencional da força contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo de pessoas. Essa violência pode resultar em dano físico, sexual, psicológico ou morte”. Esse conceito de violência é acertado e dá conta do caráter antiético da violência quando diz que o uso intencional da força, contra si e contra o outro, resulta em dano. Se há um critério basilar para julgar uma ação como sendo violenta, esse critério é o “dano” sofrido pela vítima. Sem “dano” na vida, saúde e liberdade, de si e do outro, não há violência. E com consentimento da vítima, também não há violência, por isso a definição diz que violento é o uso intencional da força contra si e contra o outro. O “contra”, nesse aspecto do “não-consentimento”, nos dá outro critério, ao lado do “dano”, para se pensar uma ação como violenta.

A pergunta que fica é: quais são as formas da violência e quais são suas principais vítimas? Mas isso fica para um próximo artigo.

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