quarta-feira, 21 de março de 2018

LEITURA LITERAL DA BIBLIA.

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Para os cristãos, a Bíblia é Palavra de Deus. Todo texto, porém, é lido a partir de um contexto no qual o leitor extrai o pretexto, o efeito da leitura em sua vida.

O lugar social no qual se situa o leitor influi em seu lugar epistêmico. Por isso, o mesmo texto bíblico é interpretado de modo diferente se lido na academia ou em uma Comunidade Eclesial de Base.

Na tentativa de evitar hermenêuticas equivocadas, cabe à autoridade religiosa indicar a interpretação correta. Isso, entretanto, não é solução. A autoridade não é isenta de múltiplas influências. Durante séculos a Igreja Católica aceitou a versão criacionista, segundo a qual procedemos todos de Adão e Eva. Darwin e o evolucionismo comprovado pela ciência demonstraram que somos todos descendentes de macacos.

Ler a Bíblia fora do contexto pode induzir o fiel desavisado a odiar seu pai e sua mãe para aderir a Jesus (Lucas 14, 26). Um cristão tinha por hábito sortear, toda manhã, um versículo dos evangelhos como motivação espiritual. Ao abrir o texto em “Amai o próximo como a si mesmo”, adotou, naquele dia, postura mais atenciosa com a faxineira, o ascensorista e a copeira do escritório.

Dia seguinte caiu-lhe o versículo 5 do capítulo 27 de Mateus, sobre a culpa de Judas: “E ele foi e se enforcou”. Ciente de que a vida é o dom maior de Deus, permitiu-se uma segunda chance. Deparou-se com o último versículo da parábola do Bom Samaritano: “Vá e faça o mesmo.”

Ora, como Deus não quer o mal, ele se deu uma última oportunidade. Veio-lhe este versículo da paixão de Jesus em João: “O que tem a fazer, faça depressa” (13, 27)...

A leitura literal da Bíblia ou a pescaria de versículos que tira o texto de seu contexto, é hoje utilizada para fundamentalistas bradarem que a Bíblia condena a homossexualidade. Ora, em toda ela há apenas três versículos que podem ser interpretados nessa linha (Gênesis 19, 1-28; Levítico 18, 22; Romanos 1, 26-27).

Ainda que houvesse mais versículos, há que levar em conta que a Bíblia foi escrita dentro de uma cultura patriarcal, machista, e nem tudo que ela diz pode ser tomado ao pé da letra. Caso contrário, os fiéis não poderiam, hoje, comer carnes de porco, coelho, lebre e mariscos, proibidas em Levítico 11. Nem produtos embutidos (Atos 15, 19-29).

O apóstolo Paulo proíbe que homens preguem com a cabeça coberta (1 Coríntios 11, 4). Quantos bispos não o fazem ostentando a mitra? Paulo assinala que estar casado e ser bom marido é requisito para ser eleito bispo (1 Timóteo 3,2). E ainda recomenda que nos submetamos a toda autoridade, ainda que ditatorial (Romanos 13, 1-2).

“A letra mata, o Espírito vivifica” (2 Coríntios 3,6), proclama o mesmo Paulo. E o próprio Jesus ousou nos posicionar em uma nova óptica quanto aos textos do Antigo Testamento: “Ouviram o que foi dito; eu porém afirmo...” (Mateus 5).

A fidelidade à Palavra de Deus não se coaduna com a intolerância, o preconceito e a discriminação. E Deus só se faz presente onde há amor (1 João 4,16).

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