sábado, 23 de setembro de 2017

DE VOLTA À CAVERNA.

Resultado de imagem para a volta a caverna
A história do ocidente se funda no judaísmo e o cristianismo, mas, igualmente, sobre os gregos. Dos gregos, ninguém melhor do que Platão sintetizou o ideal político, pedagógico, científico e filosófico em uma única página, conhecida até por secundaristas, intitulada Mito da Caverna.

O mito da caverna tem a mesma força de uma parábola contada por Jesus. No caso do mito da caverna o cerne da mensagem está em que o mundo dos sentidos e da opinião nos prendem no fundo da escuridão de nós mesmos, voltados a contemplar as sombras do real, pela falta de luz (conhecimento) achando que o limite da percepção subjetiva é o limite do mundo e da verdade.

Imaginemos, diz Platão, que no fundo de uma caverna se encontrem homens presos por correntes nos pés e no pescoço, que lhe impossibilitam o movimento e os obriguem a olhar somente para o fundo da caverna. Imaginemos ainda, continua Platão, que em direção à saída da caverna, logo após os homens amarrados, há um muro e, atrás desse muro, andam homens para cá e para lá carregando figuras que se erguem acima do muro. Mais atrás ainda há uma grande fogueira. A luz da fogueira projeta, então, as sombras desses objetos no fundo da caverna. Os homens, amarrados com o rosto para o fundo, contemplam essas sombras e ouvem o eco das vozes dos homens em movimento, imaginando se tratar de vozes das próprias sombras, que eles pensam serem reais. Na cabeça desses homenzinhos o mundo está todo inteiro aí e não há outro mundo possível e pensam ser a verdade toda inteira.

Imagine agora, diz Platão, que um desses homens se liberte das correntes que o amarra à escuridão da ignorância e vá em direção a saída da caverna. A saída em direção à luz pode ser dolorida, mas ao chegar ao fim verá e contemplará o sol, metáfora verdadeira do conhecimento e do bem.

Qual a missão desse que se liberta e vai em direção ao sol, ao conhecimento? Voltar para dizer aos presos na caverna que aquele mundo é apenas a sombra do verdadeiro mundo e que vale o esforço de libertação. Esse processo quem deve fazer? A educação, a arte, as ciências e a filosofia. Essa tem sido a aposta do longo processo de civilização...

Pois, hoje, a impressão que se tem é que as pessoas amam o fundo da caverna e fazem elogio a ignorância defendendo teorias obscurantistas, opiniões e mais opiniões sem base científica e filosófica mínimas.

Há os que defendem, discutem, brigam dizendo que a terra é plana desprezando a história das ciências e os grandes gênios de todos os tempos. Há os que, a todo custo, se opõe aos defensores do aquecimento global e que localizam a atividade humana como causadora. A quase unanimidade dos cientistas, com a adesão do Papa Francisco, não lhe diz nada. Eles adoram a caverna. Há os defensores de um tal de Bolsonaro, que se opõe aos direitos humanos e que afronta o mínimo do bom senso no campo da sexualidade, do valor da diferença, dos direitos dos animais e da liberdade religiosa. Há ainda aqueles que se opõem ao mundo acadêmico fazendo louvor a um Olavo de Carvalho que em universidade alguma seria aceito. Há os que confunde arte de representação com a própria realidade representada, confundido a palavra com a coisa. Há ainda os que dizem que nunca houve ditadura no Brasil. E o dizem como se estivessem profetizando uma verdade revelada, sabe-se lá de que deus... A lista é longa e cada um pode fazer a sua...

A impressão que fica é que vivemos tempos de volta à caverna. Eu particularmente não me assusto. Esses são tempos instigantes. Quanto maior for o movimento de retorno à caverna, maior deve ser a aposta no pensamento livre, mas responsável, baseado na racionalidade crítica e no amor à verdade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário