terça-feira, 10 de janeiro de 2017

SER FELIZ É O DESEJO

O inverno fora duro e parecia nunca mais ter fim. Impaciente e magro, um urso olhava para a paisagem desolada e para o lago congelado. Ele precisava, de qualquer maneira, encontrar alimento. Uma lufada de vento trouxe ao urso um inegável cheiro de comida e ele partiu, imediatamente, em sua busca. Seu instinto lhe sugeria muita prudência. Acabou encontrando um acampamento de caçadores, providencialmente, deserto. E lá, em meio a uma vigorosa fogueira, um panelão cheio de comida. O urso enfiou a cabeça nas gostosas iguarias e sem hesitar, abraçou o a panela.

Um calor insuportável começou a lhe queimar a boca, as patas e o peito. Era uma sensação que ele não conhecia, mas interpretou como uma coisa que queria roubar-lhe a comida. Continuou abocanhando a comida e apertou com força a panela, mas teve de rugir de dor. Quanto mais rugia, mais apertava a panela. Meia hora depois, quando chegaram, os caçadores viram um enorme urso, encostado a uma árvore. Morrera em consequência das queimaduras. Mesmo morto, tinha a expressão de que ele ainda estava rugindo de dor.

Ser feliz é o desejo, mais que isso, uma obsessão, que nos acompanha ao longo da vida. Todos os nossos atos, ao longo de toda a vida, têm uma direção única: a felicidade. Mesmo quando optamos por algo que nos machuca, no momento, jamais perdemos o foco da felicidade, mesmo que seja para mais adiante. Mas na realidade nem mesmo sabemos bem o que é ser feliz. Confundimos, muitas vezes, momentos de prazer com felicidade. A miopia, por vezes, faz-nos optar pelas águas de uma cisterna poluída, deixando de lado fontes cristalinas. Santo Agostinho, que na primeira parte da vida correu em busca da felicidade, deu-se conta de coisas que eram “belas pelo avesso”.

Na vida, algumas vezes, abraçamos coisas que parecem sinalizar a felicidade. Imediatamente, ou com o passar do tempo, nos damos conta que isso não nos faz feliz. Pelo contrário, origina sofrimentos. Mas não queremos largar a panela. Seria suficiente desistir. Acabamos derrotados por algo que nos parecia trazer a felicidade.

Determinados erros justificam-se pela inexperiência juvenil. Com o passar dos anos devemos aprimorar o juízo crítico. Não podemos querer apenas abraçar aquilo que nos faz feliz agora. Precisamos pensar no dia seguinte. As feridas podem nos levar ao desastre.

É sempre tempo de recomeçar. É sempre tempo de fazer a contabilidade entre o custo e o benefício. E se algo não nos favorece, tenhamos a lucidez que o urso não teve: largue a panela.

E Santo Agostinho resumiu sua incansável busca da felicidade: “Fizeste-nos para ti, ó Deus, e irrequieto estará o nosso coração até não repousar em Ti”.

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