sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

QUE A PALAVRA SEJA O PORTA-VOZ DOS SENTIMENTOS.

Como faz bem ter por perto pessoas bem-humoradas. Elas transformam ambientes e corações. Não sei de onde tiram tantas histórias, nem como incrementam com detalhes que tornam o que é muito simples por demais engraçado. Não sei contar piadas. Acabo rindo o tempo todo. Em algumas situações, acaba-se rindo mais de quem está contando a piada do que da própria piada. É um conjunto que rouba intermitentes gargalhadas: a tonalidade da voz, o jeito de narrar, o envolvimento com o fato, a atenção dos ouvintes.

Num dia desses, por acaso, participei de uma ‘rodada’ de engraçadas anedotas. Algumas me fizeram rir ao ponto de provocar lágrimas. Faz bem para a alma chorar de tanto rir. Uma certa leveza toma conta do ser, quando rimos bastante. Enquanto alguns ainda riam, de forma um tanto suave alguém disse algo que poderia ser motivo de riso, mas que acabou provocando um silêncio reflexivo: foi comentada a morte de uma pessoa. Um do grupo perguntou: “morreu de que?”. O outro respondeu: “sufocou-se com as palavras que nunca disse”. O silêncio falou alto, os olhares se cruzaram, a consciência foi abordada.

As palavras que nunca foram ditas podem sufocar, sim. Não se trata de um incidente repentino. Tem algo a ver com o jeito de ser, postura diante da vida, desconhecimento da própria personalidade. Palavras e sentimentos buscam uma contínua fusão. O que cada pessoa sente, aguarda por expressão. A palavra traz à realidade o que é pensado e sentido. Falar o próprio sentimento, alegre ou dolorido, é uma forma de harmonizar o que vai no íntimo. O ato de desabafar tem um efeito saudável, pois alivia o que, com o passar dos dias, se tornou um peso. A dificuldade em expressar os sentimentos impacta diretamente na qualidade de vida.

A influência cultural, o formato educacional e as objeções com que cada um vai construindo sua história, exercem um papel quase determinante no modo como cada um interage com o mundo. Há pessoas silenciosas, resguardadas em sua própria intimidade. As mais falantes, nem sempre transbordam o essencial. Cada qual com seu jeito, todas com a necessidade de uma ajuda para a utilização adequada da palavra, como expressão do que vai nas profundezas do ser. Os tempos são outros. Ninguém precisa sufocar-se com o que não disse. Que a palavra seja porta-voz dos sentimentos.

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