domingo, 21 de fevereiro de 2016

A PRAIA...

Até hoje não me deparei com nenhum estudo sobre as razões da fascinação do ser humano pela praia. Estranho que um fenômeno sociologicamente relevante não tenha entrado no radar de antropólogos, sociólogos, psicólogos, economistas, cientistas políticos... Afinal, o deslocamento anual de milhões de pessoas para o litoral é algo socialmente relevante que deveria ser incluídos nos estudos acadêmicos.

Principalmente aqui no Rio Grande do Sul em que, aparentemente, são poucas as razões para deslocar-se até as águas do Atlântico. Por que tantos insistem em enfrentar a água constantemente gelada, ondas contínuas e irregulares, areia esburacada, o nordestão implacável, águas-vivas de todos os tamanhos e até algumas variações de cores, cães sem dono e com dono circulando livre e impunemente pelas areias, falta de salva-vidas nas guaritas, banheiros raros, distantes e infectos, moradores das cidades fantasiados de gaúchos que vão em insana cavalgada sujando as areias com esterco em que proliferam moscas e outros animais por semanas e semanas?... E mesmo assim tanta gente insiste em ir às “praias” gaúchas? Inclusive eu, não desisto de, a cada ano e todos os anos, passar pelo menos uma semana por lá?

Se alguém tiver alguma hipótese a considerar, me comunique, por favor. De minha parte, em um momento havia considerado a possibilidade de que fosse por razões econômicas. Vai-se ao Cassino, Cidreia, Tramandaí, Imbé, Capão, máximo Torres, porque é mais barato. Santa Catarina, onde, de fato, há praias de verdade, seria muito caro para o bolso dos gaúchos... Mas vendo o modo como os veranistas, do Chuí ao Mampituba, se comportam no veraneio, tanto à beira-mar como nas festas, restaurantes, bares, casas e as mansões e condomínios que fazem inveja a Punta e Parati, esta hipótese fica descartada. Mesmo não universalizável, o que se assiste no litoral gaúcho é um verdadeiro “veraneio ostentação”. A hipótese da economia fica, pois, descartada.

A outra a considerar é o atávico gosto entre nós cultivado ao longo das décadas e séculos de privilegiar o que é nosso. Aqui tudo é diferente, especial e melhor que no “resto do Brasil”. E dessas especificidades gaúchas fariam parte também as praias. Assim que podemos afirmar que nenhum outro estado tem o mar tão frio como o nosso, um nordestão igual ao nosso, águas-vivas tão multitudinárias como as das nossas praias, só aqui se permitem cachorros a beira-mar atacando as bolsas e transmitindo tudo o que é doença, da sarna ao bicho geográfico, unicamente nas nossas praias as pessoas são obrigadas a entrar no mar ou esconder-se nos cômoros quando alguma necessidade fisiológica premente não pode ser contida, não há em nenhum outro estado um desfile de cavalos pela praia para embelezá-la com montículos de esterco e rastros de urina... Ou seja, nossas praias são tão especiais que não podemos trocá-las pelas de qualquer outro estado do Brasil ou até do Caribe, mesmo sendo mais barato uma semana de hotel em Arruba que em Torres, uma cerveja em Natal que em Arroio do sal, um churrasco em Fortaleza que em Cidreira!

Ah! E nossas praias são tão especiais que nem os argentinos ficam por aqui. Eles passam e vão direto a Santa Catarina. Imagina! Elas são só para nós e não queremos reparti-las com mais ninguém. Mesmo que isso pudesse trazer mais recursos para os negócios turísticos e, consequentemente, benefícios para as cidades. Imagina se eles chegassem a afirmar que nossas praias são parecidas com as da Patagônia...

Mas essa é apenas uma hipótese. Falta comprovação científica. Espero que alguém se interesse pelo tema e vá fundo na questão. Ficaria feliz em ser desmentido. Mas temo não sê-lo. Tanto por culpa da natureza que assim fez nosso litoral como pelo nosso atávico instinto de nos considerarmos especiais diante do “resto do Brasil”. Até nas praias.

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