domingo, 15 de fevereiro de 2015

NADA FICARÁ SEM RECOMPENSA.

O duelo, no passado, foi uma modalidade irracional de resolver questões. Os mais diferentes motivos podiam ser resolvidos dessa maneira - problemas afetivos, questões de honra, divergência sobre dívidas... As três principais modalidades de vitória: o primeiro sangue, um dos adversários mortalmente ferido ou mesmo a morte. Assim era lavada a honra. Supostamente o vencedor tinha razão. Na Itália, em fins da Idade Média, dois cavaleiros desafiaram-se em duelo para provar a supremacia de dois poemas. Qual era melhor: Jerusalém Libertada ou Orlando Furioso?
Escrita por Torquato Tasso, Jerusalém Libertada narra a epopeia da tomada da cidade santa na Primeira Cruzada. Ludovico Ariosto – com Orlando Furioso - exalta episódios da Reconquista, quando a Europa expulsou para a África os muçulmanos que se haviam apoderado de Portugal, Espanha e parte da França. As duas obras fizeram muito sucesso e tiveram centenas de edições e os pintores mais célebres deixaram obras-primas envolvendo cenas dos poemas.
No duelo, um dos adversários caiu mortalmente ferido e, antes de expirar, afirmou levar para a eternidade uma grande mágoa: gostaria de ter lido os dois poemas.
É bastante comum a pessoa assumir posições pelo lado emocional. Não conhece a questão, mas faz dela uma razão para viver. São os revolucionários sem causa. Surge um abismo entre a convicção e o fanatismo. Acabam por representar. Assim podem existir teólogos sem fé, moralistas de vida totalmente errada, políticos apenas interessados em seus interesses, ferreiros com espeto de pau. O Evangelho fala dos que dizem Senhor, Senhor, mas não entrarão no Reino, mesmo tendo feito milagres.
Um dos episódios mais intrigantes do Evangelho refere-se à figueira sem frutos. À beira do caminho surgiu uma figueira frondosa. Jesus dirigiu-se a ela, mas ficou decepcionado: não havia sinal de frutos. E aí surge o detalhe surpreendente: não era tempo de figos. Produzir frutos no tempo certo é bom, mas o discípulo do Senhor produz frutos também fora do tempo. É aquilo que escapa ao limite formal do dever. É aquilo que é feito além da obrigação, depois do tempo ou porque alguém deixou de fazer. É a gratuidade. O mesmo Evangelho fala da segunda milha. A primeira milha é a da obrigação, a segunda é a da generosidade. tantos não ficaram na primeira milha e produziram frutos fora da estação. “Somos servos inúteis, apenas fizemos aquilo que devíamos fazer”, é a constatação humilde do empregado fiel. Mesmo assim o Mestre lembra que nem um copo de água, símbolo das menores coisas, ficará sem recompensa.

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