terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

PERGUNTAR NÃO OFENDE

Há alguns dias, o governador paulista José Serra se irritou profundamente com as perguntas da equipe da TV Brasil a respeito das enchentes em São Paulo. Nos bons tempos do jornalismo, seria o suficiente: nenhum outro repórter faria nenhuma outra pergunta sobre nenhum outro assunto. Se o tema irritava o entrevistado, algum motivo haveria – e por que não tentar descobri-lo?

Os dias se passaram e o assunto foi abandonado. Os meios de comunicação de São Paulo mantiveram obsequioso silêncio para não irritar a autoridade. Não se trata, fique claro, de culpar o governador pelo excepcional volume de chuvas, nem deixar de condenar atos anti-sociais da população, como jogar móveis velhos, pneus usados, entulho e lixo nas ruas, que tanto contribuem para as enchentes. Mas volumes excepcionais de chuva podem ocorrer novamente; muita gente continuará durante um bom tempo a praticar atos anti-sociais; e é preciso informar quais os planos do governo para amenizar os problemas e prejuízos da população de agora em diante.

Perguntar o que se deve perguntar, a propósito, não é ato hostil: pode ser, conforme o caso, a grande oportunidade para que as autoridades reafirmem seu prestígio. Foi assim que o prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, ampliou sua popularidade. E também pode ser a abertura para certas revelações que possam prejudicar políticos concorrentes. No caso de São Paulo, por exemplo, como é que foi liberada a utilização para moradia de uma área de brejo como o Jardim Pantanal?

Talvez o maior problema jornalístico de hoje seja o clima de clássico de futebol que cerca a política. O nosso lado nunca erra, o lado adversário está sempre errado. Antes de fazer uma pergunta, é preciso saber se a resposta beneficiará um lado ou outro. Mas política não é futebol. Administração também é outra coisa.

 
 

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