sábado, 9 de maio de 2015

O SER HUMANO TERÁ JEITO?

Considerando os cenários mundiais, a violência bélica em várias nações com terríveis matanças de vidas humanas, ou a violência de estudantes que, ensandecidos, invadem uma escola e abatem a tiros dezenas de colegas, sem falar das torturas e dos abusos que se fazem a inocentes, nos surge, espontânea, a pergunta: o ser humano tem jeito? Não somos uma excrecência do processo da evolução?

Feliz aquele que ”Enche-se de inefável gozo todas as vezes que olha o sol, contempla a lua e dirige sua vista para as estrelas e o firmamento. Quando se encontra com as flores, prega-lhes como se fossem dotadas de inteligência e as convida a louvar a Deus. Faz-o com terníssima e comovedora candura: exorta à gratidão os trigais e os vinhedos, as correntes dos rios, a beleza das hortas, a terra, o fogo, o ar e o vento”.

Esta atitude de reverência e de enternecimento leva-nos a recolher as minhocas dos caminhos para não serem pisadas. No inverno dar mel às abelhas para que não morram de escassez e de frio. Pede aos irmãos que não cortem as árvores pela raiz, na esperança de que possam se regenerar. Até as ervas daninhas devem ter seu lugar reservado nos hortos, para que possam sobreviver, pois “elas também anunciam o Pai de todos os seres”. Só pode viver esta intimidade com todas as coisas quem escutou sua ressonância simbólica dentro da alma, unindo a ecologia ambiental com a ecologia profunda; jamais se coloca acima das coisas mas ao pé delas, verdadeiramente como quem convive como irmão e irmã, descobrindo os laços de parentesco que une a todos.

O universo ecológico nunca é inerte. Todas asa coisas são animadas e personalizadas; por intuição descobrimos o que sabemos atualmente por via científica (Crick e Dawson, os que decifraram o DNA) que todos os viventes somos parentes, primos, irmãos e irmãs, pois possuímos o mesmo código genético de base.

Desta atitude nasce uma imperturbável paz, sem medos e sem ameaças. Quem realizou plenamente a esplêndida definição que a Carta da Terra encontrou para a paz:
”É aquela plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com as outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra.”

A verdadeira alegria não está na autoestima, nem na necessidade de reconhecimento, nem em fazer milagres e falar em línguas. Em seu lugar, coloca os fundamentos da cultura da paz: o amor, a capacidade de suportar as contradições, o perdão e a reconciliação para além de qualquer cobrança, retribuição ou exigência prévia. Vivida esta atitude, irrompe a paz, a paz do coração, inalterável, capaz de conviver jovialmente com as mais duras oposições, paz como fruto de um completo despojamento. Não são essas as primícias de um Reino de justiça, de paz e de amor que tanto desejamos?

Esta visão da paz representa um outro modo de estar-no-mundo junto com as coisas, uma alternativa ao modo de ser da modernidade e das pós-modernidade, assentado sobre o estar-sobre as coisas, dominando-as e usando-as de forma desrespeitosa para o enriquecimento e para o desfrute sem qualquer sentido de sobriedade.


A descoberta da irmandade cósmica nos infundirá um espírito de respeito e nos devolverá a claridade e a inocência infantil da idade adulta, importantes para sairmos bem da crise.

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