quinta-feira, 7 de maio de 2015

IGUALDADE SEM DIVERSIDADE?

Também por gostar da música, começo a conversa colocando na lembrança dos leitores as notas musicais. São sete notas que compõem a escala. Uma nota é diferente da outra em seu nome, na posição da pauta e na sonoridade também. Cada uma diferente da outra vai-se compondo a melodia, a harmonia e a sinfonia. Se todas fossem iguais não haveria musicalidade. Mas apenas por serem diferentes não resolvem uma obra musical.
Quando desordenadas e sem nexo, as notas só podem produzir confusão, ruídos e desafinação. Cada nota certa no seu lugar certo vai compondo a melodia certa e a harmonia gostosa de se ouvir. Tudo o que é diferente pode enriquecer a vida e a história, como pode processar riscos de exclusão, desordem e confusão demolidora.
No ser humano existe um impulso natural diante do diferente e das diferenças, que tende a anular, excluir e destruir. O instinto de morte que habita em nós facilmente tende a ver no diferente o lado ruim e desafinado. Quantas vezes somos tentados a querer tudo ao tamanho de nossos desejos e querer que o outro seja nossa imagem e semelhança. Desse jeito não há como compor harmonia na convivência humana e nem mesmo a sinfonia de uma história favorável aos humanos.
Se olhamos a natureza, logo percebemos a beleza de uma mata quando as árvores que a compõem são diferentes e convivem na diferença e até se protegem uma na outra. Uma gleba de eucaliptos não convida ao encantamento, mas à percepção da utilidade para a qual foram plantados. A igualdade sem diversidade não parece ser o melhor para o dinamismo da vida. Quando paramos diante de um jardim bem cultivado nos convencemos que nele ficam bem as flores iguais, porém a variedade o torna ainda mais admirável.
Existem animais predadores que perseguem e matam, mas o fazem não porque são diferentes, mas por serem impelidos instintivamente em sua luta pela vida. Na verdade, a natureza pode nos ensinar algumas lições, mas não ensina tudo, pois o ser humano é chamado a viver e conviver de forma humana segundo o projeto de Deus que assim o pensou. O modo humano de existir e coexistir precisa sintonizar com o pensamento de Deus para que as diferenças consigam enriquecer a unidade e a comunhão.
Só aos humanos livres, conscientes e responsáveis é dada por Deus a graça que possibilita a conjugação da diversidade numa unidade fecunda e uma unidade que consiga integrar a diversidade. Nesse processo sempre existirão riscos e desafios. Porém, é só desse modo que nos enriquecemos mutuamente.

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