quinta-feira, 20 de novembro de 2014

COMEÇAR TUDO DE NOVO

Cada vez que leio e medito a parábola do Filho Pródigo, ou do Pai misericordioso, encontro tesouros que enriquecem a vida no meio dos pequenos detalhes que tecem esta página incomparável da Escritura. Depois que o jovem tomou nas mãos a liberdade, decidiu sair de casa levando a herança; depois que a liberdade foi virando prisão e a herança lhe foi roubada pela ilusão; depois que se viu no meio dos porcos e na trágica negação da comida com que estes se alimentavam, sentado no fundo do poço, o jovem “caiu em si”, isto é, deu-se conta.
O jovem deu-se conta! Do que? Ao cair em si, certamente lembrou seu passado e como era a vida na casa do seu Pai. A experiência vivida lhe deu um critério de julgamento de seu momento presente desolador. Ao cair em si deu-se conta do cenário que o envolvia e a fome que sentia. Mas, o que mais o fez cair em si foi o confronto com o coração do Pai, de braços estendidos e as mãos abertas a oferecer pão em abundância, até mesmo para os empregados.
Ao cair em si, o jovem deu-se conta que, apesar de tudo, a vida está cheia de possibilidades de superação. O melhor para a vida ainda é possível. Os horizontes para um futuro novo estão abertos para quem se dispõe a levantar e caminhar para frente. Não há graça maior do que poder começar tudo de novo. Ali, até os fracassos podem ser uma escola para não voltar a repetir os mesmos erros.
Cada um de nós, no cotidiano da vida, carrega consigo um pouco do filho pródigo. Um impulso natural nos impele a vagar em busca de uma liberdade que, facilmente, nos leva à decepção. Não sabemos bem o momento em que saímos de casa, nem a quantia de herança que levamos conosco ou quanto já gastamos inutilmente.
No percurso de nosso viver, cada um tem sua história. Pode ser melhor ou pior, mas, na verdade, é sempre única. O que não podemos permitir, neste caminho, é viver levados pela onda, nem de nossas ilusões, nem na carona de quem nos conduz a lugar nenhum. Necessitamos do permanente cuidado para nos dar conta do que estamos fazendo com a vida.
Quantas vezes ouvimos pessoas dizerem: “A vida é assim mesmo, pouco ou nada se tem a esperar!” E assim vão levando seus dias numa triste rotina de uma tentadora acomodação. Pior ainda é envolver-se na onda avassaladora da alienação que não permite mais a pessoa “cair em si”, obrigando-a a ser massa de manobra da cultura de morte.
Na medida em que avançamos no caminho e no tempo, mais sentimos a necessidade de crer que um novo mundo é possível, uma nova sociedade é possível, uma família mais integrada e feliz é possível e ser uma pessoa convertida e santa é possível.
Para darmos este salto de qualidade é fundamental que comecemos por nos dar conta de que a vida pode ser muito mais, que a convivência familiar e social pode ser muito melhor. Admitindo esta realidade, somos chamados a começar por nós, levantando-nos e pondo-nos a caminho, sem ficar esperando pelos outros.

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