domingo, 2 de novembro de 2014

A GRANDEZA DE CONVIVER COM O DIFERENTE.

Ao refletir sobre o tempo no coração da vida, lembrei-me de uma antiga frase que sempre me deixou inquieto: “Tempo é questão de preferência!” Acho que pode ser um assunto a ser tratado com carinho. Em primeiro lugar necessitamos situar em que nível deva ser entendida a tal de “preferência”. Há preferências que brotam de um nível natural e quase instintivo. Nesse nível a ocupação do tempo pode ser equivocada e perigosa. Em manhã fria de inverno, ao natural, prefiro levantar-me cedo para dedicar o tempo ao trabalho ou prefiro continuar dormindo? Ao natural, prefiro programar um dia organizado e dinâmico ou disperso e descomprometido? As preferências naturais nem sempre são as melhores para uma boa formação no que se refere à ocupação do tempo.
Organizar a administração do tempo ao impulso das preferências mais agradáveis e fáceis parece ser uma tendência forte de nossa época. Nesse caminho corre-se o risco de ir renunciando a capacidade de ser sujeito da história e ir se tornando objeto de manipulação alienada. Neste nível, o tempo precisa superar a questão de preferência para ser vivido numa perspectiva de escolha responsável e construtiva.
Também em nível psicológico precisamos cuidar das preferências na ocupação do tempo. Se eu escolho ocupar-me acentuadamente com as pessoas de minha simpatia e que fecham com meu modo de pensar e sentir, não tarda a acomodação e a mesquinhez. A grandeza de uma vida se faz pela capacidade de superar as preferências naturais para aprender a conviver com o diferente, com quem precisa de mim e desafia minha maturidade afetiva, emocional e sentimental.
Já podemos nos dar conta que a expressão “tempo é questão de preferência”, pode ser uma tendência, mas não uma verdade que liberta. Se programarmos a vida ocupando-nos só com o que preferimos, corremos o risco de deixar de lado o que é mais importante. Vidas humanas precisam ir à luta para aprender a preferir também o que ao natural não parece preferível.
O cultivo de uma espiritualidade cristã é que vai ajustando nossas preferências que merecem ocupar nosso tempo. A espiritualidade vai nos mostrando critérios e nos dando motivações para fazer escolhas certas, tornando-as preferências certas para uma vida rica de sentido. A espiritualidade cristã nada despreza do que é humano. O trabalho, o estudo, o lazer, os cuidados naturais da vida, vão se integrando no todo de uma existência normal e vão se ajustando dentro de uma luz maior que faz ver e viver a verdade total do ser humano.
Podemos manter como verdadeira a frase “tempo é questão de preferência”, desde que sejam realmente escolhas nobres e dignificantes, na medida de nossa dignidade de filhos de Deus e irmãos uns dos outros.

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