sábado, 11 de julho de 2009

UM NOVO CREDO III

Creio no Deus do estupor de maria, da trilha laboral das formigas e do desejo sideral dos buracos negros. Deus despojado, montado num jumento, sem pedra onde encostar a cabeça, aterrorizado pela própria fraqueza.

Creio num Deus que se esconde no avesso da razão atéia, observa o empenho dos cientistas em decifrar-lhe os jogos, encanta-se com a liturgia amorosa de corpos excretando sumos a embriagar espíritos.

Creio num Deus intangivel ao ódio mais cruel, às diabrites explosivas, ao hediondo coração daqueles que se nutrem com a morte alheia. Misericordioso, Deus que se agacha à nossa pequenez, suplica por um cafuné e pede colo, exausto frente à profusão de estultíces humanas.

Creio sobretudo que Deus crê em mim, em cada um de nós, em todos os seres gerados pelo mistério abissal de três pessoas enlaçadas pelo amor, cuja suficiência desbordou nessa Criação sustentada, em todo o seu esplendor, pelo frágil fio de nosso ato de fé.

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