quinta-feira, 18 de junho de 2009

"FRANCISCA E A MORTE.

Uns procuram o que todos procuramos - a felicidade na via equivocada da posse dos bens finitos. Passam a existência a adquirir e preservar bens supérfulos que tanto poderiam ser úteis àqueles que foram injustamente privados de acesso a uma vida digna - os pobres. Outros fazem da sua trajetória existencial um acumulo de bens infinitos, como a amizade, solidáriedade e partilha. Sabemos todos que a felicidade não consiste na soma dos prazeres como tenta nos incutir a publicidade dessa sociedade consumista. Mas como é difícil cultivar o exercício das virtudes, o rigor a ética, a ecobiologia interior que nos livra do apego, da língua ácida, da inveja, do ressentimento, e preenche-nos o coração e a mente de espiritualidade, altruísmo, sabedoria e fome de justiça! Como dizia Jesus a respeito de nossa morte não sabemos nem o dia nem a hora. E nem modo. Certamente não teremos a sorte de Francisca, personagem do conto de Jorge Onelio Cardoso, "Francisca e a morte". A morte, ciosa de seus deveres, foi cedo em busca de Francisca na região em que ela morava. Procurou-a em casa, na roça, nos vizinhos. Aonde chegava, Francisca havia saído há pouco, sempre dedicada a cuidar dos outros. Vendo que as horas passavam e o último trem da tarde estava prestes a saír, a morte desistiu de encontrar Francisca e levá-la consígo. Pouco depois um velho conhecido passou a cavalo e viu Francisca cuidando do jardim da escola. Saudou-á: "Então Francisca, você não morre nunca?" "nunca" retrucou ela, "sempre há algo a fazer".

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