terça-feira, 25 de setembro de 2018

PAU DE SELFIE.


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Outro dia me impressionei com uma reportagem no facebook sobre as mortes pelo uso do pau do selfie já terem superado as das vítimas de ataque por tubarão. Imediatamente, associei a inusitada descoberta aos efeitos nefastos do uso da mais atual maravilha do mundo, a rede. É incrível que a possibilidade ao alcance de tantos de ser a estrela do seu destino tenha se transformado numa profecia autorealizante. A escolha deliberada pelo estrelato sacrifica a integridade do artista e até a sua vida.

Daí que me ocorreu que a humanidade está diante de uma encruzilhada, vivendo um momento de decisão que vai determinar o curso da vida no planeta pelas eras porvir. Essa decisão será do que de fato sacrificar para continuar vivo, pois não há a menor dúvida de que algo tem que ser sacrificado. Para isso será necessário primeiro aprofundar a compreensão da natureza das coisas.

Os valores que escolhemos consumir, é certo, são intrinsecamente temporários, entronizamos o que é feito para acabar, o que é propriedade da matéria. Mas, como tudo o que é sólido desmancha no ar, ficamos vendidos no final, por ter perdido a única coisa que tem valor absoluto nesta vida: o tempo. A conquista de que ninguém poderá nos privar é a certeza de que soubemos aproveitar cada segundo da nossa existência.

O tempo tem uma característica enganadora: é comum achar que ele não está passando. Até perceber tarde que ele passou rápido demais. E mais: cada momento traz em si a semente da mudança, até porque o presente existe, mas o passado e o futuro não passam de abstrações. Nessas condições, a segurança que todos somos concitados a adorar pode ser um tiro no pé, pois sem o risco que é a alma do negócio morreremos todos de tédio.

Daí que a escolha do quê sacrificar passa pela possibilidade de que não nos curtam, com as nossas bênçãos. O emprego do tempo da minha vida tem que aceitar a irrelevância da plateia para que eu queira agradá-la.

Talvez a maior previsão do clarividente Aldous Huxley tenha sido o pau do selfie. Afinal o seu incomparável ‘Admirável Mundo Novo’ descreve o futuro em que o controle social deixaria de ser imposto para ser desejado. Nos tornaríamos escravos por vontade própria, já que a dignidade da diferença não resistiria ao apelo da vaidade de pertencer ao perfeito mundo dos sem defeitos. Aceitaríamos qualquer coisa se fosse para contabilizar curtidas, ou seja, para não ouvirmos que temos defeitos.

O fato, porém, é que a dignidade decorre do poder de nos autodeterminarmos e de aceitar que os outros, por sua vez, escolham o seu caminho. Pior do que não ser curtido é depender dos outros para nos definir, pois só às coisas não se dá o direito de escolher como viver. E talvez seja essa a escolha do sacrifício a se fazer, o de não precisar ser perfeito.

Afinal, segundo o facebook, Cecilia Meirelles já constatou que ‘é preciso amar as pessoas e usar as coisas e não amar as coisas e usar as pessoas.’

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